09/2024

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Brasil tem uma queimada a cada 2 minutos em 2024; estiagem é a pior em 75 anos

Dez cidades concentram 20% dos focos de fogo que consomem o país; especialistas da Coalizão condenam incêndios criminosos

Homem tenta combater queimada: incêndios já atingem 58% do país, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O Brasil enfrenta nas últimas semanas uma combinação devastadora de eventos climáticos extremos e incêndios provocados, em grande parte, por ações criminosas. O país sofre com a pior estiagem em 75 anos, tendo 58% do território afetado pela seca, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Este cenário se agrava diante de evidências de que a grande maioria dos focos de fogo é intencional.

O número de queimadas mais do que dobrou em um ano. Em 2024, já é registrado um novo foco a cada 2 minutos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre 1º de janeiro e 17 de setembro, a Amazônia concentrou 50,2% dos focos de fogo do país, somando 94.601 ocorrências. Aparecem em seguida o Cerrado, com 61,3 mil incêndios (32,5% dos registros nacionais) e a Mata Atlântica, com 16.606 queimadas (8,8% dos casos).

Dez cidades das regiões Norte e Centro-Oeste concentram 20,7% das queimadas: São Félix do Xingu (PA), Altamira (PA), Corumbá (MS), Novo Progresso (PA), Apuí (AM), Lábrea (AM), Itaituba (PA), Porto Velho (RO), Colniza (MT) e Novo Aripuanã (AM).

Entre esses municípios, seis (Altamira, São Félix do Xingu, Porto Velho, Apuí, Lábrea e Colniza) estão na lista dos que mais desmataram em 2023, segundo o sistema Prodes, do Inpe.

“Isso mostra que essas áreas estão sendo queimadas para a consolidação do desmatamento”, ressalta Beto Mesquita, membro do Grupo Estratégico (GE) da Coalizão Brasil. “Há uma relação muito clara. E, em algumas regiões, o fogo está sendo usado como novo agente de degradação. Os incêndios são os novos vetores de destruição, talvez para tentar escapar dos sensores remotos que detectam o desmatamento. Com isso, quando se abrem áreas, há maior dificuldade de detectar extração, por exemplo, de madeiras de valor mais nobre.”

Essa prática criminosa, segundo Mesquita, constitui um desafio para os governos federal e estaduais, que precisam adaptar as estratégias de combate, fiscalização e preservação. O governo federal divulgou, no último dia 17, que mantém 2.992 profissionais no controle de incêndios na Amazônia, Pantanal e Cerrado, incluindo agentes do Ibama, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Forças Armadas e Força Nacional de Segurança Pública. O fogo já consumiu 22,2 milhões de hectares nos três biomas.

A cofacilitadora Renata Piazzon destaca que os incêndios trazem prejuízos em todas as áreas – dos ecossistemas à saúde humana, passando pela economia agrícola, que tem grande peso no PIB nacional. “Estamos diante de uma tempestade perfeita: vemos a crise climática ganhar contornos, com o aumento da estiagem e o prolongamento do El Niño, e uma sensação de impunidade de muitos criminosos, que ateiam fogo na vegetação em diversas regiões do país”, destaca Piazzon, que defende uma “transformação por completo” na capacidade de prevenção e combate a incêndios. “O que acontece agora mostrou que, por mais que tenha havido investimentos recentemente, permanecemos com uma quantidade insuficiente de recursos humanos e infraestrutura para combater os focos de fogo. Falta, também, uma articulação entre as diferentes instâncias de governo.”

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