06/2019

Tempo de leitura: 6 minutos

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Desafios do advocacy é tema de mesa de debate da plenária

Foto: RAPS

Para abordar os desafios do advocacy no cenário político brasileiro atual, a Coalizão promoveu uma mesa de debate durante a sua primeira plenária de 2019. Participaram da mesa: João Hummel, agrônomo e diretor-executivo do Instituto Pensar Agro (IPA); André Lima, advogado, sócio fundador e coordenador do Projeto #Radar Clima e Sustentabilidade do IDS; Monica Sodré, cientista política e Diretora Executiva da Rede de Articulação Política pela Sustentabilidade (RAPS); Sergio Abranches, sociólogo, cientista político, jornalista, escritor e colunista da CBN; além de nossos facilitadores André Guimarães e Luiz Cornacchioni.


O objetivo da mesa foi debater como encontrar, no Brasil de hoje, um espaço para a convergência entre lados que ainda são vistos como opostos, como o meio ambiente e o agronegócio.


Segundo João Hummel, “a agropecuária brasileira vive um momento de transição. Há 35 anos, nós éramos importadores de alimento e hoje somos um grande player, o terceiro maior exportador do mundo”. Ele destacou que, durante os debates sobre o Código Florestal, o setor rural, em nenhum momento, questionou se deveria ter ou não as áreas de preservação dentro das propriedades. Disse também que o produtor hoje busca sustentabilidade, previsibilidade e segurança jurídica.


Guimarães concordou com Hummel. “A gente fez uma revolução. Há 40 anos atrás, a gente exportava café e, às vezes, cacau. Hoje, a gente tem pelo menos 15 produtos que estão entre o primeiro e segundo lugar em exportação no mundo, como soja, carne, laranja etc.” Mas é hora de fazer uma nova revolução, segundo Guimarães, na qual “novos elementos são agregados ao processo decisório, dentre eles a questão do desmatamento, da preservação ambiental, que precisam ser incorporadas na equação financeira da agropecuária”.


Para trazer os desafios da busca da convergência para o setor ambientalista, André Lima lembrou que, embora a agricultura tenha se modernizado de algumas décadas para cá, “o segmento político que a representa não mudou. A gente acaba sempre numa queda de braço”. Por isso, a subcomissão agroambiental da Câmara dos Deputados, criada recentemente com o apoio da Coalizão, pode ser um espaço importante, segundo Lima, na busca de consensos entre as partes. “O agro pode até não ser muito pop. Tem que ser tech e haverá de ser tudo, se ele for ambiental”, concluiu.


Para Mônica Sodré, que está à frente da RAPS, uma rede que reúne mais de 500 líderes, sendo 34 com mandatos eletivos hoje, os futuros vereadores e prefeitos que serão eleitos em 2022 precisarão ser capazes de governar num cenário muito mais complexo do que há 10 anos atrás. “Certamente, por conta das mudanças climáticas, eventos extremos serão agravados e teremos prefeitos e vereadores lidando no âmbito dos municípios com esses desafios de maneiras mais prementes do que antes. Mais pessoas serão atingidas por secas e enchentes”, comentou Sodré.


Para ela, existem três grandes desafios na agenda da convergência. O primeiro é a comunicação. “É muito difícil traduzir o que a gente está falando. É tipo ética. É difícil que alguém não se ache ético. É difícil que alguém não ache que está trabalhando pela sustentabilidade”. Por isso, é necessário garantir que a informação chegue de maneira clara e rápida aos eleitos.


O segundo desafio é incluir os partidos políticos na estratégias de advocacy. Os dados do Basômetro, ferramenta do Estadão que mede a taxa de apoio da base ao governo, apresentados por Sodré, reforçam que as decisões políticas no Congresso são definidas por meio dos partidos e, por isso, eles importam e precisam estar envolvidos na estratégias de advocacy do movimento.


O terceiro desafio é a democracia, que hoje exige novas formas de participação mas também lida com uma grande dificuldade em promover debates profundos com informações de qualidade. “É possível uma agenda de convergência? Sim, mas a gente precisa começar a endereçar essas três questões”, afirmou Sodré.


Sergio Abranches destacou que o Brasil vive um processo de rupturas eleitoral, política e partidária. Diferentemente do que havia no passado, hoje só existem bancadas médias no Congresso. Segundo Abranches, é muito mais desafiador coordenar um Congresso fragmentado. Ele ressalta ainda que o resultado das votações é a etapa final de algo maior que começa com uma grande discussão para decidir o que será levado à plenário. “Tem um processo muito mais complexo que faz com que várias pautas não cheguem à votação. É aí é que se trava as mais importantes batalhas do legislativo brasileiro, definindo o que será ou não votado. Para chegar a plenário, é preciso passar por vários filtros que se tornaram mais complicados agora por conta do processo de fragmentação do Congresso”.


Como estratégia de resistência proativa, Abranches sugere três ações centrais. A primeira é “considerar o fato de que é muito mais difícil conseguir negociar no executivo em algumas áreas do que no legislativo, onde há claramente uma noção de que o desmonte ambiental não faz sentido e não representa aqueles que estão no Congresso”. Em segundo lugar, Abranches defende uma maior capacidade de bloqueio judicial como “um processo fundamental de contrapeso aos excessos de qualquer um dos lados”. A terceira ação seria “buscar mais diretamente os agentes econômicos, buscar mais diretamente a convergência com o agro mais avançado.


Para Luiz Cornacchioni, “um dos pilares importantes da Coalizão é o diálogo. Toda vez que a gente faz isso, a gente sai melhor”. Cornacchioni disse ainda que “existem pontos de convergências. O que a gente tem que fazer é, naqueles em que a convergência já está acordada, vamos caminhar”. Ele espera que os debates da mesa possam ajudar a Coalizão a traçar os próximos passos de seu advocacy.


Para assistir na íntegra o debate, clique aqui e avance o vídeo até 1:56.

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