12/2019

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Mobilizando capital privado para a economia de baixo carbono

Diogo Falchano Bardalanalista de investimentos da International Finance Corporation (IFC) e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura
Pedro Gandolfo Soaresgerente de Mudanças Climáticas e REDD+ do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

Nos últimos 30 anos e, com maior prioridade, desde o Acordo de Paris, organizações multilaterais, sociedade civil, empresas e governos vêm tentando estabelecer modelos para descarbonização da economia mundial e um novo paradigma tecnológico que viabilize o desenvolvimento social e econômico com baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE). No caso brasileiro, dado que cerca de 50% das emissões são provenientes das mudanças no uso da terra, é necessário desenvolver modelos e estratégias de financiamento focados em eliminar o desmatamento no País e recuperar em larga escala as áreas degradadas e subutilizadas.

A dinâmica agrícola do Brasil, principalmente nas regiões chamadas de fronteiras do desmatamento, leva à preservação de atividades econômicas de baixíssima produtividade por longos períodos, sem que aconteça, necessariamente, um transbordamento do desenvolvimento ocorrido em setores mais dinâmicos, dada a grande disponibilidade de terras a preços baixos.

Tal dinâmica é incapaz de tirar da pobreza milhões de brasileiros. O crédito rural e o investimento privado não fluem, portanto, em direção à diversificação para atividades rivais das que geram desmatamento: migram, majoritariamente, para setores dinâmicos longe da Amazônia, em que já há capital disponível, capacidade empresarial e segurança jurídica. A preservação dessa dualidade tenderá a levar, em última instância, à exaustão dos recursos naturais na Amazônia.

Para sairmos desse estado de entropia, é necessário construirmos alternativas, modelos conceituais e novas estruturas de negócios que se contraponham às atividades de baixa produtividade vigentes. Isso envolve dar ganhos de escala às experiências bem-sucedidas relacionadas: (i) à produção e comercialização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros; (ii) à restauração de áreas degradadas com o uso de sistemas produtivos econômicos e consorciados; (iii) ao aumento da eficiência operacional da pecuária; (iv) a arranjos entre pequenos produtores e a indústria ; (v) ao aproveitamento estratégico dos serviços ambientais e sua transformação em ativos financeiros; e (vi) ao fomento de pesquisa e desenvolvimento para a transformação do nosso produto selvagem, expandindo os usos possíveis e os padrões de qualidade.

Para essa construção, é fundamental dar novo propósito a instrumentos econômicos há muito tempo disponíveis nas instituições financeiras. São eles o uso de garantias parciais ou totais, instrumentos híbridos (dívidas conversíveis), a combinação entre assistência técnica e financiamento, a estruturação de recebíveis e a mistura entre recursos reembolsáveis e não reembolsáveis, de forma a alavancar uma nova leva de investimentos privados para regiões florestais e de fronteira agrícola.

A economia com base na biodiversidade brasileira é, como o próprio nome antecipa, diversificante da nossa base econômica. Esta é a chance de entrarmos na economia global pela porta da frente, aproveitando nosso potencial natural para aliar qualidade de vida e prosperidade.

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