02/2020

Tempo de leitura: 4 minutos

Compartilhar

Adaptação da agropecuária às mudanças climáticas

Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Miguel Calmon, diretor de florestas do WRI Brasil e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura


As mudanças climáticas já causam danos reais à agropecuária. Fenômenos como secas, enchentes e aumento da intensidade de ondas de calor e de frio podem ter um grande impacto na redução da produtividade global de alimentos. Isso significa menos alimentos e mais prejuízo aos produtores e à balança comercial de seus países.

O Brasil tem ao menos duas importantes políticas em vigor que podem cooperar para a redução de emissões e remoção de gases de efeito estufa (GEE) e contribuir para adaptação da agropecuária às mudanças climáticas. São elas o Plano ABC, que consiste em sete programas para mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), que abrange oito iniciativas estratégicas para recuperar ao menos 12 milhões de hectares de áreas degradadas, em especial em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RL).

Foi para analisar a efetividade dessas políticas que o WRI Brasil, a GIZ – Sociedade Alemã de Cooperação Internacional –, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e pesquisadores brasileiros debruçaram-se sobre uma série de estudos que resultou no working paper “Papel do Plano ABC e do Planaveg na Adaptação da Agricultura e da Pecuária às Mudanças Climáticas”, lançado em novembro*.

O trabalho mostra que o caminho para uma agricultura de baixa emissão de carbono, resiliente às mudanças climáticas e que gera retornos socioeconômicos já existe. O desafio é expandir os incentivos para que essas ações sejam adotadas em grande escala nas propriedades rurais brasileiras.

De início, foi feito um levantamento da literatura científica e das experiências práticas que apontam os impactos das mudanças climáticas na agropecuária, em especial no Brasil, onde muitas atividades e culturas dependem de água da chuva e do clima certo.

A partir de análises de diversas culturas, o estudo constatou que as modalidades de agricultura e pecuária previstas pelo Plano ABC e Planaveg podem realmente tornar essas atividades mais resilientes e sustentáveis, evitando impactos na produção de alimentos, no emprego e na geração de renda.

O documento traz, ainda, contribuições como a proposta de uma matriz de impactos das mudanças climáticas que permitirá a financiadores e investidores a identificação direta do efeito de estratégias do Plano ABC e do Planaveg no aumento da resiliência e na adaptação dos sistemas de produção agropecuária a mudanças climáticas. Essas estratégias podem, assim, reduzir os riscos dos produtores, dos agentes financeiros, das seguradoras e dos investidores, já que trazem benefícios diretos para os produtores rurais do ponto de vista econômico e socioambiental.

É essencial, portanto, aumentar o investimento e ampliar a adoção das modalidades sustentáveis na agricultura e aumentar a escala da restauração de áreas degradadas. Só assim será possível diminuir a vulnerabilidade do produtor rural a eventos extremos e proteger a produção de alimentos e de commodities para gerar riqueza e empregos no campo, além de tornar o Brasil uma liderança global da produção de alimentos mais sustentáveis e resilientes.


*Artigo de nossa autoria junto aos colegas Luiz Claudio Costa, Susian Martins, Rafael Feltran-Barbieri, Maura Campanili e Carlos A. Nobre. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/publicacoes

Assine nossa Newsletter
Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi realizada com sucesso.