Nº 90
06/2024

Tempo de leitura: 3 minutos

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Atribuir valor ao capital natural pode reduzir desmatamento no Cerrado

Criação de métricas para valorizar recursos naturais nas propriedades rurais é um debate a ser levado a Matopiba, afirma Roberto Waack, membro do Grupo Estratégico da Coalizão

Martinelli73/iStock

Em 2023, o desmatamento no Cerrado superou o da Amazônia, segundo dados do MapBiomas. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde 2019, quando teve início a publicação, por essa iniciativa, do Relatório Anual de Desmatamento (RAD). Para Roberto Waack, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil, essa informação sinaliza que é necessário debater e promover a valorização do capital natural. Assim, os proprietários rurais – que são autorizados pelo Código Florestal a desmatar parte de suas propriedades – podem enxergar nas áreas de vegetação nativa uma nova cadeia de valor e oportunidade econômica. 

Segundo o RAD 2023 do MapBiomas, o desmatamento como um todo caiu 11,6% no país. O Cerrado correspondeu a 61% da perda de cobertura vegetal no território nacional, e a Amazônia respondeu por 25%. O Cerrado perdeu 1.110.326 hectares de vegetação nativa em 2023, o que representa um crescimento de 68% em relação a 2022. A situação é mais crítica em Maranhão, Tocantins e Bahia, que, juntos com o Piauí, formam a região conhecida como Matopiba, uma das principais fronteiras agrícolas do país e grande produtora de milho e soja. 

O desmatamento no Cerrado ocorre principalmente em imóveis rurais privados, que, pelo Código Florestal, podem desmatar até 80% de sua área. Há um debate se essa atividade está sendo feita de forma legal ou ilegal, porém, partindo-se do pressuposto que seja legal, o foco é como incentivar os proprietários a não fazerem a derrubada da mata nativa, mesmo que tenham direito a isso. 

“A alternativa é promover a discussão sobre valoração do capital natural”, afirma Waack, que também é presidente do Conselho do Instituto Arapyaú. “Existe uma competição pelo uso da terra e o proprietário escolherá a melhor opção econômica.” 

Waack destaca que, por causa do Código Florestal, o agro possui cerca de 200 milhões de hectares de vegetação nativa do país. “Quando o agro incluir esse capital nas suas cadeias de produção, o jogo mudará”, acredita. 

Para isso, é preciso criar instrumentos que o agronegócio e o setor financeiro possam utilizar para a monetização do capital natural. No entanto, tais mecanismos demandam métricas adequadas para avaliar, por exemplo, a qualidade e caracterização de aspectos como flora, fauna, solo e microbiota. A academia e organizações ambientais são os setores capazes de gerar essas métricas, avalia Waack. E, uma vez que essa discussão avance, o poder público pode contribuir com políticas públicas e regulamentações. 

“A Coalizão tem um papel muito grande na mobilização da sociedade, academia e ambientalistas, contribuindo para a promoção dessa valoração”, afirma. Waack assinala que o debate pode ser levado para dentro do Matopiba, não apenas por conta de seus elevados índices de desmatamento, como por sua concentração de grandes empresas do agronegócio, muitas delas membros da Coalizão.

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