O pano de fundo desta COP é a sequência de eventos pós-pandemia. A economia em geral já estava enfraquecida quando emergiu a Guerra da Ucrânia, pressionando a inflação de alimentos e energia. O confronto alçou a segurança energética e alimentar à condição de temas estratégicos para a segurança nacional em todo o mundo e pode influenciar nas negociações da conferência climática, ameaçando o avanço das metas do Acordo de Paris. Os argumentos para a continuidade dos combustíveis fósseis já foram colocados na mesa ao longo deste ano. A desaceleração e até mesmo o retrocesso na agenda de transição energética na União Europeia fazem com que o bloco perca liderança no âmbito das negociações, com potenciais consequências profundas para a meta do Acordo de Paris.
A inflação de alimentos fez com que a fome e a pobreza, que já deveriam estar em rota de saída dos desafios globais, voltassem não só em países pobres, mas também em nações em desenvolvimento e também em bolsões nos países ricos. Os países pobres, já endividados em função da pandemia da Covid 19, não têm condições de pagar caro por alimentos. A isso se soma o fato de que a ajuda humanitária de doação de alimentos e recursos foi diminuída ou interrompida em função do apoio econômico para a guerra. Essa combinação de fatores recoloca fome e pobreza na agenda internacional.
Além de ser uma COP que acontece na África, um dos continentes mais afetados pela crise climática, a COP 27 acontece nesse pano de fundo e deve ser por ele influenciada. Deve, portanto, ser uma conferência na qual a questão norte-sul volta a ser um tema político, na qual as finanças serão centrais no debate e as conversas sobre justiça e equidade se farão muito mais presentes. Embora a COP 27 já tivesse sido desenhada para ser uma conferência de ação, e não de demonstração de intenção, o que nela acontecer estará sob pressão não só dos desdobramentos para o clima, mas também para a equidade, para a natureza e a perda de biodiversidade. O sucesso ou não das ações propostas terá que responder a essas três dimensões.
Países e organizações da academia, sociedade civil e do setor privado perceberam que é preciso chegar à COP com outra posição: não é mais possível ficar restrito à abordagem tradicional sobre o combate às mudanças climáticas, focada apenas na mitigação contra eventos extremos. Essa COP exigirá um olhar integrado para o que acontece com a biodiversidade e a natureza e o que acontece com as pessoas. Exigirá, assim, mais atenção às questões de adaptação e mobilização de financiamentos.
Embora estes desafios transcendam o Brasil, nosso país, o mais biodiverso do mundo e um dos principais produtores de alimentos, está no centro desse debate. Em um documento que será lançado durante a COP, destinado aos governos e parlamentares eleitos, a Coalizão visa mostrar caminhos e propor soluções para uma produção sustentável de alimentos, para a geração de empregos e renda e para uma resposta rápida e contundente à crise climática. Um resumo das propostas, endereçado aos candidatos à eleição, foi apresentado em junho e pode ser encontrado aqui.