10/2021

Tempo de leitura: 10 minutos

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Coalizão Brasil discute desafios da Amazônia em conferência do Global Landscapes Forum

No GLF Amazônia, que reuniu mais de 200 especialistas para discutir soluções para o bioma, movimento participou de eventos sobre geopolítica, bioeconomia e desmatamento zero

Coalizão Brasil foi uma das apoiadoras da conferência digital GLF Amazônia – Ponto de Inflexão, organizada pelo Global Landscapes Forum (GLF), uma das principais plataformas globais sobre paisagens sustentáveis. Entre os dias 21 e 23 de setembro, mais de 200 especialistas discutiram os desafios do bioma, que se aproxima do ponto de não-retorno: segundo o GLF, 40% da Amazônia poderá em breve perder sua funcionalidade como floresta geradora de água.

A Coalizão participou de painéis com temas relacionados a bioeconomia, geopolítica e desmatamento zero, além da plenária final.


Geopolítica do desmatamento zero
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Foto: Divulgação


Marcello Brito, cofacilitador do movimento e presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), participou da sessão A geopolítica do desmatamento zero: conectando oferta e demanda, em 22 de setembro. Os painelistas discutiram o desafio de acabar com o desmatamento na produção de commodities e o impacto de acordos globais e comerciais nessa agenda.

Além de Brito, falaram na sessão Yovita Ivanova, da International Center for Tropical Agriculture (CIAT), Christine Dragisic, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Eric D. Matson, da Climate Focus, Efrén Nango, da Confederación de Nacionalidades Indígenas de La Amazonía Ecuatoriana (Confeniae), e Hugo-Maria Schally, da Comissão Europeia.

“Este é um momento adequado para falar de agricultura, natureza e clima, porque são três áreas que ainda andam isoladas, mas que precisam estar juntas”, ressaltou Brito.

Para ele, as soluções relacionadas ao combate ao desmatamento na Amazônia e a redução de emissões de gases de efeito estufa demandam transformações no sistema produtivo mundial. “Nas duas primeiras décadas do século, prometemos cadeias livres de desmatamento, e agora prometemos cadeias neutras em emissões. Conseguiremos? É hora de unir forças e responsabilidades que compõem os sistemas agroprodutivos e alimentares no mundo.”

Um dos pontos a serem resolvidos é como fazer chegar o financiamento adequado aos pequenos agricultores da região, que somam mais de 750 mil, afirmou. “Se os pequenos produtores rurais da Amazônia não forem financiados adequadamente, não se encaixarão nesses novos modelos de produção.”
Brito acrescentou, ainda, que “para resolver as mudanças climáticas, precisamos também resolver a desigualdade que existe na população mundial”.

Assista ao debate completo aqui.

Bioeconomia na Amazônia

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Foto: Divulgação

Já no dia 23 de setembro, a Coalizão e a iniciativa Uma Concertação pela Amazônia promoveram a sessão O que é bioeconomia?, junto com Inbar, Cirad e Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR). Roberto Waack, membro do Grupo Estratégico da Coalizão e da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, foi o mediador do painel, cujo objetivo, disse, era “ouvir dos amazônidas o que é bioeconomia e entender as diferentes perspectivas dos stakeholders e dos habitantes da região sobre esse conceito tão importante”.

Participaram Ivaneide Bandeira Cardozo, da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Danilo Fernandes, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Neto, da Ygarapé, Karina Pinasco, da Amazónicos por Amazonía (Ampa), Angélica Rojas, da Fundación para la Conservación y Desarrollo Sotenible (FCDS), e Noelia Trillo, da Forest Bambu.

Os painelistas destacaram os desafios para tornar a economia baseada na floresta mais competitiva, sustentável e participativa. Entre eles, o fortalecimento de cadeias de valor, uma melhor avaliação do potencial dos mercados locais, a necessidade de integrar as questões ambientais na agenda econômica como um todo e a inclusão social. “É impossível falar de bioeconomia sem essa integração absoluta entre ambiental e pessoas”, lembrou Waack.

Para assistir ao debate, acesse aqui.

Desenvolvimento endógeno

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Foto: Divulgação

No mesmo dia 23 de setembro, a jornalista Miriam Leitão fez a moderação do debate Como construir um modelo de desenvolvimento endógeno?. O governador do Maranhão, Flavio Dino, foi um dos debatedores, junto com Rosa Lucero, representante do cantão Logroño, do Equador, Angélica Rojas, da Fundación Para la Conservación y Desarrolo Sostenible (FCDS) dos departamentos de Meta e Guaviare, da Colômbia, e Stig Traavik, da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad).

A discussão girou em torno da importância de se adotar novos modelos econômicos em uma transição para uma economia de baixo carbono e que torne possível a conservação do bioma amazônico.

“Os governos da Amazônia têm o desafio de promover essa transição para produção e consumo sustentáveis”, afirmou Luis Hidalgo Okimura, governador da região de Madre de Dios, no Peru. Ele lembrou que, para isso, é necessário unir produção agrícola sustentável, que seja viável economicamente, e a conservação da floresta. “Assim será possível melhorar a vida das populações locais e alcançar a proteção ambiental.”

O governador Flávio Dino ressaltou que, para atingir esse status no bioma, é preciso uma união internacional. “Sem o compromisso firme da comunidade internacional, não conseguiremos adotar uma economia verde”, disse.

Miriam Leitão encerrou a moderação ressaltando a importância do apoio político ao futuro do bioma. “Democracia é a nossa batalha inicial. Sem ela não haverá Amazônia.”

Assista ao vídeo do debate aqui.

Plenária de encerramento

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Foto: Divulgação

A plenária de encerramento do GLF Amazônia foi conduzida por Rachel Biderman, cofacilitadora da Coalizão e vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional (CI). Com o tema E agora? Como ampliar negócios sustentáveis, financiamento climático, alianças e políticas públicas para a ação regional?, o painel buscou discutir como impedir que a Amazônia chegue ao ponto de não-retorno por meio de ações integradas e cooperação entre diferentes setores da sociedade, e teve a participação de lideranças indígenas e quilombolas e de representantes do setor privado e de iniciativas envolvendo diferentes países.

Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade Latam da Bayer, apresentou a Coalizão como um exemplo de espaço de exercício de cidadania e respeito a diferentes pontos de vista. “É um espaço em que trabalhamos nos 80% que nos une, em vez de conflitar nos 20% que temos de diferente”, afirmou Bastos, que, na Coalizão, é membro do Grupo Executivo e líder do Fórum de Diálogo Agropecuária e Silvicultura. “É um ambiente muito importante, em que temos esse olhar sobre a Amazônia de maneira muito forte, em praticamente todos os Fóruns de Diálogo do movimento.”

Bastos também apresentou a Coalizão Leaf, uma iniciativa público-privada global que, explicou, promove a redução de emissões de carbono por meio da aceleração de financiamento da manutenção da floresta em pé. A Leaf pretende mobilizar ao menos US$ 1 bilhão em recursos públicos e privados, que serão utilizados para o pagamento de países ou governos locais pela redução de desmatamento.

Também participaram Vanuza Cardoso, líder espiritual e ativista feminista quilombola de Abacatal (PA), Andrea Alvares, da Natura, a bióloga colombiana Brigitte Baptiste, José Yunis Mebarak, coordenador da Visión Amazónia (Colômbia), Carlos Armando Salinas Montes, da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), e Ima Célia Guimarães Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi. Benki Piyãko, líder da comunidade Asháninka, e o cardeal peruano Pedro Barreto, da Rede Eclesial Pan-Amazônica, participaram por meio de depoimentos em vídeo.

Ao final da sessão, Guilherme Leal, cofundador da Natura e do Instituto Arapyaú e membro do Grupo Estratégico da Coalizão, deu um depoimento em vídeo, no qual destacou a importância da Amazônia para o Brasil e para o mundo e a necessidade de pensar em modelos de desenvolvimento que contemplem a diversidade do bioma. “A reinvenção do Brasil só é possível se passar pela Amazônia. Aliás, pelas amazônias. Além das áreas de conservação, existem as áreas urbanas, as que precisam ser regeneradas, as já convertidas pela grilagem e mineração e as áreas de povos indígenas. Todas fazem parte da Amazônia e precisam de soluções”.

Leal incentivou, ainda, que o setor privado faça parte das soluções. “Mais que convite direto, chamo as empresas para se consorciarem e se unirem com suas competências e conhecimentos únicos para construir um caminho que salte das planilhas e comece a encarar de fato os desafios de um desenvolvimento sustentável da Amazônia.”

Assista à sessão aqui.

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