Na primeira plenária após seu lançamento oficial e sexta de sua história, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura avaliou as atividades dos meses recentes e abriu espaço para que os nove subgrupos do GT de Propostas se pronunciassem. Realizada em 9 de outubro, em São Paulo (SP), a reunião durou cerca de quatro horas, atraiu mais de 60 pessoas e contou com representação equilibrada de ONGs, instituições setoriais e empresas. Estiveram presentes, inclusive, membros que aderiram recentemente ao movimento, a exemplo de empresas como Danone, Monsanto e Cargill.
A primeira parte da plenária foi dedicada a uma avaliação geral, como participação em congressos internacionais, expectativas para a COP 21, em Paris, interlocução com líderes do governo e posicionamento em relação à INDC brasileira. “O Ministério do Meio Ambiente tem feito consultas frequentes à Coalizão e manifesta que nosso apoio é produtivo”, afirmou José Luciano Penido, presidente do conselho da Fibria Celulose. Segundo ele, foi decisivo ter representantes em Nova York, acompanhando o anúncio das contribuições brasileiras. “Esclarecemos alguns pontos no ato e pudemos compartilhar ideias em seguida, na análise da recepção da INDC, que reuniu cerca de 30 pessoas da Coalizão numa conferência por telefone, e da qual saiu nosso comunicado à sociedade.”
Para Marcelo Furtado, diretor executivo do Instituto Arapyaú, a mobilização da Coalizão tem causado boa impressão no exterior. “Lá fora, a imagem que se tem é de que o Brasil está paralisado por uma crise econômica e política. Quando a Coalizão se apresenta e expõe suas propostas, que expressam o alinhamento das diversidades, os interlocutores se espantam e param para nos ouvir.”
Furtado lembrou que a Coalizão é um lugar de encontro de diferentes organizações e não apenas um porta-voz desses grupos. “Há uma agenda em comum, e a permanente disposição de ouvir opiniões distintas, seja de dentro ou de fora do movimento, é boa para manter o frescor”, completou João Paulo Capobianco, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável (IDS). “A Coalizão é isso mesmo, o ouro dela é ver pessoas de diversos lugares juntas.”
Na ocasião, foi destacado o valor de se manter o movimento aberto e em busca do consenso. Ainda que expresse opiniões e posicionamentos obtidos por meio da harmonia entre várias vozes, reafirmou-se que a Coalizão deve tornar clara a possibilidade de convívio de opiniões diferentes, inclusive em sua comunicação.
Roberto Waack, presidente do conselho da Amata, ressaltou, citando Ricardo Guimarães, da Thymus Branding e membro da Coalizão, que vivemos uma época em que a estratégia da independência está migrando para a da interdependência. “Essa transição se reflete em palavras e conceitos-chave que permeiam a Coalizão, como mobilização, diálogo, produção conjunta, criação de massa crítica e comunicação, que levam, em última instância, à transformação.”
Esses conceitos se refletem também no modus operandi do movimento. “A Coalizão tem o papel de mobilizar e facilitar a interlocução entre diferentes lideranças, indicar ações críticas para a implementação das medidas voltadas para o uso da terra associadas ao baixo carbono e apontar as instituições que cuidarão da implementação dessas medidas”, explica Waack. Ou seja, a Coalizão não executa ações diretamente, nem oferece financiamento para isso. Mas acompanha todo o processo de perto.
“O movimento ajuda essas instituições a fazerem parcerias e a obterem recursos de outros apoiadores, cuida do monitoramento e atua no advocacy nacional e internacional.” Finalmente, acrescenta, a Coalizão tem o papel de manter a sociedade informada sobre o andamento das ações pela via da comunicação ampla.
Com relação ao pós-Paris, ressaltou-se a importância de se avaliar como ocorrerá a concretização das metas do acordo do clima a partir de 2016, sempre seguindo o intuito principal do movimento, de acompanhar e de contribuir para que as metas sejam de fato alcançadas. Ao término da primeira parte da plenária, Penido lembrou que o Brasil tem um papel importante na cooperação internacional (para difusão e compartilhamento de tecnologias na área florestal e agrícola) e que há uma expectativa de que o país lidere esse movimento.
Outro ponto de destaque: a necessidade de trazer mais grupos envolvidos com questões sociais. “Vincular esse aspecto com a economia de baixo carbono é um diferencial importante para a Coalizão”, afirmou Miriam Prochnow, secretária executiva do Diálogo Florestal.
A segunda parte da reunião foi dedicada às apresentações dos nove subgrupos do GT de Propostas. Eles envolvem dezenas de profissionais voluntários, que têm o importante papel de analisar estratégias e experiências para concretizar as 17 propostas defendidas pelo movimento. Cada um dos subgrupos (também chamados de GTs) teve dez minutos para expor aspectos em foco e contar seus próximos passos.
O grupo de trabalho de implementação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e do PRA (Plano de Regularização Ambiental), por exemplo, está elaborando a base para um guia do PRA e de uma campanha nacional que informe os proprietários rurais sobre a importância do CAR. Já o grupo da agropecuária de baixo carbono produziu um documento com macrodiretrizes para a COP 21 e desenvolverá uma agenda positiva para promover atividades de descarbonização no campo.
Por último, Sérgio Leitão, do Instituto Escolhas, resumiu as diretrizes do estudo que a Coalizão encomendou ao instituto e ao Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getulio Vargas. Trata-se de uma análise da viabilidade econômica das propostas que vêm sendo discutidas pelos GTs.