09/2016

Tempo de leitura: 8 minutos

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Entrevista: Celina Carpi explica proposta para GT de logística

CLV 8320
Foto: Clovis Fabiano

Representantes de empresas e organizações da sociedade civil que integram a Coalizão propuseram ao movimento a criação de um novo Grupo de Trabalho (GT), voltado para a logística nos setores de agropecuária e florestas. Entre eles, estão: Grupo Libra, Cargill, Cia de Navegação Norsul, TNC, WRI e WWF. A percepção que impulsiona a iniciativa está no fato de que um país onde o principal meio de escoamento da produção do campo é o rodoviário, há importantes oportunidades para reduzir emissões de gases do efeito estufa (GEE) e também para rever políticas públicas nessa área, proporcionando benefícios econômicos e sociais.

Assim, a logística de baixo carbono complementaria a agenda da Coalizão. Por isso, o tema será abordado em no segundo dia da Conferência Ethos 360o, edição São Paulo, que acontece entre 20 e 21 de setembro. Celina Carpi, presidente do conselho do Instituto Ethos e membro do conselho de administração da Libra Holding, participará do debate. Na entrevista a seguir, ela explica objetivos e perspectivas dessa frente de ação.

Como surgiu a proposta de criação de um GT de logística na Coalizão?

Vários membros da Coalizão têm sentido a necessidade de um debate mais abrangente sobre o tema, pois viveram, ao longo de décadas, um enorme desafio para escoamento da produção. Até aqui, focamos na forma de produção florestal e agrícola, mas esses produtos tem um percurso para chegar as unidades beneficiamento ou aos mercados, onde há emissões de GEE e que podem ser minimizadas. Estamos falando dos grandes corredores de cargas, não estamos tratando aqui da questão urbana. Você tem uma unidade de produção, onde enfrenta desafios diversos, mas não consegue ter uma eficiência no transporte desse produto ao destino final. Quando lembramos da agricultura, das commodities, isso fica mais contundente. Muitas vezes, as análises abordam termos econômicos, mas há outra conta a ser feita, a de emissões de GEE. A pergunta é: qual é a contribuição do sistema logístico para o desenvolvimento de baixo carbono? Temos que partir de algum ponto. A princípio, as conversas nos levam a duas visões aspiracionais. A primeira diz respeito a sermos capazes de influenciar as escolhas de políticas públicas e privadas de modais de transporte que levem à logística de baixo carbono. A segunda está ligada a uma metodologia de análise dos diversos modais de transporte para serem comparáveis entre si. Isso independe de saber se hoje temos o pior ou o melhor sistema de logística. Queremos falar do futuro.

Como a logística se insere no contexto do Acordo de Paris e nas metas brasileiras?

Cada setor dará sua contribuição para cumprir as metas mundiais e as nacionais para o clima. O fato é que a fatia de emissões do setor de transporte está crescendo na proporção do todo. Então, se o Brasil tem o objetivo de reduzir as emissões do país em 37% até 2025 e em 43% até 2030, qual será a contribuição do sistema logístico? Essa é uma pergunta fundamental. Temos que estudar cenários de escoamento de produção e focar na promoção daqueles de mais baixas emissões.

O Brasil tem uma estimativa de emissão da logística no setor de agropecuária e de florestas?

Grosso modo, o setor de logística o Brasil é responsável por emissões que equivalem a metade das do uso da terra.  Isso é muito.  Não sabemos, contudo, o quando disso é relacionado a grãos ou produtos florestais.  Mas quem responder a essa pergunta precisará utilizar uma metodologia que seja comparável e amplamente aceita.

Há exemplos de estruturas de logística já inseridas na economia de baixo carbono no exterior?

Existem países que optam pelos transportes massivos, como ferrovia e hidrovia — os menos emissores. O vilão é o modal rodoviário, uma vez que tem sido adotado como solução sem considerar sua vocação. Quando se fala de transporte de grãos de longas distâncias, o grande vilão é o caminhão. A integração com hidrovias e ferrovias ainda é um desafio, uma vez não temos viabilidade econômica e regulatória desses modais, e nem um plano macro para implementação de ferrovias importantes. É necessário avaliar risco ambiental e os trade-offs sociais no cenário das diversas soluções. Por isso, esse tema está tão dentro do escopo da Coalizão.

Dentre os objetivos propostos por esse possível GT está a realização de dois estudos de caso: um para a logística integrada no Tapajós e outro a ser escolhido, para o Centro-Sul. Por quê?

Porque buscamos uma dimensão prática, para pensar numa metodologia e checar o quanto a logística integrada contribui para a cadeia produtiva da agropecuária e florestas. Precisamos explicitar a relevância do tema e casos reais ajudam muito. Quem opera e lida com isso entende as ineficiências do sistema logístico e que o tema precisa ser abordado com dados. O caso da Amazônia vai nos permitir analisar escolhas de grandes modais de escoamento, analisar rodovias, hidrovias e ferrovias e seu potencial.  Lá, a logística tem também intima relação com padrões do uso da terra, seja propiciando abertura de novas florestas, como incentivando a agricultura de baixo carbono. No centro-sul podemos olhar o já existente, as opções de gestão do transporte rodoviário e também as opções de novos modais que tem surgido na iniciativa privada, como a cabotagem.

Afinal, o que é uma logística de baixo carbono?

É ter modais com muita eficiência no uso de recursos. Em geral, tudo que se transporta por água, seja por hidrovias ou por mar, é mais eficiente se comparado ao transporte por terra. E, dentro dessa última opção, o transporte sobre trilhos a partir de uma certa distância é mais eficiente do que o modal sobre rodas. No Brasil, o transporte ainda é predominantemente rodoviário. Existem alguns corredores que já estão fazendo escoamento baseado em ferrovia, porém, ainda em um percentual baixo.

O que é preciso para que o GT se concretize?

Estamos na etapa de conversar com o Grupo Orientador, ouvir suas questões e contribuições, bem como coletar impressões de todo o movimento. É uma etapa importante, porque tem experiência acumulada na rede. O próximo passo é a nossa governança. Para isso, queremos fazer uma reunião com todos que até agora participaram dessas conversas iniciais.  Grupos de Trabalho têm que contribuir para as 17 propostas do movimento. Precisamos definir um objetivo concreto e seu plano de trabalho, demonstrando que  ele alavanca a agenda da Coalizão. No caso, a logística de baixo carbono está relacionada à questão do uso do solo e sua relação com os nossos objetivos como país, incluindo a implementação do Código Florestal, o debate sobre Reserva Legal, a inovação em manejo florestal.

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