12/2021

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Estudo da Coalizão e WRI apresenta viabilidade econômica e ambiental do reflorestamento com espécies nativas

Pesquisa avaliou 40 projetos no Brasil, e resultados apontam que 32 dos 40 modelos com espécies nativas mostraram competitividade em comparação a outras atividades agropecuárias

estudo reflorestamento foto Andre Cherri WRI Brasil

Projeto Instituto Ipê. Foto: André Cherri

No dia 1º de dezembro, a Coalizão Brasil e o WRI Brasil lançaram o estudo “Reflorestamento com espécies nativas: estudo de casos, viabilidade econômica e benefícios ambientais”, que avaliou o retorno econômico de 40 projetos de reflorestamento com espécies nativas no Brasil. São exemplos de arranjos econômicos com sucesso financeiro, casados com sequestro de carbono e melhoramento de recursos hídricos.

O lançamento foi em um webinar que contou com um debate com representantes de empresas, produtores rurais, governos e organizações da sociedade civil sobre a viabilidade da economia florestal sustentável como um novo modelo de desenvolvimento, baseado na economia de baixo carbono, para o país.

Na abertura, Rachel Biderman, vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional (CI) e cofacilitadora da Coalizão, destacou o potencial brasileiro na implementação de projetos de reflorestamento. “É muito bom ver um estudo tão completo e profundo, analisando tantos casos espalhados por todo o Brasil. Sabemos que por trás de cada um deles existem muitas pessoas que acreditam demais nesses modelos. Nós da Coalizão também acreditamos que o Brasil pode oferecer muitos produtos de forma sustentável.”

Principais resultados

O estudo foi liderado pela Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão, com apoio e coordenação do WRI Brasil, e realizado por meio da Ferramenta de Investimento Verena. Daniel Soares, analista de investimento do WRI, explicou que a pesquisa foi construída a partir de 40 casos de modelos econômicos distribuídos em todo o país, em uma área de mais de 12 mil hectares com 100 espécies. Os modelos foram divididos em três arranjos: silvicultura de espécies nativas, sistema agroflorestal (SAF) e sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Segundo o documento, a recuperação dos mais de 90 milhões de hectares de pastagem degradadas no território brasileiro poderia colocar o país em lugar de destaque na geração de riquezas a partir da silvicultura de espécies nativas. Além da capacidade de gerar emprego e renda, o documento sugere que as espécies florestais e agrícolas cultivadas poderiam atender às demandas dos mercados interno e externo em diversas frentes, como energia, alimento, fibra e madeiras. Soares também destacou o retorno atrativo desses modelos para a remoção de carbono da atmosfera, o que contribui para a mitigação das mudanças climáticas, a melhora da qualidade dos recursos hídricos e o aumento da produtividade agropecuária.

Os resultados da análise mostram que, em um ciclo de 35 anos, a silvicultura multidiversa de espécies nativas pode remover 436 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq) por hectare. Nos arranjos de SAF com cacau, por exemplo, o potencial de remoção é de 236 tCO2eq por hectare ao longo do mesmo período. Outro ponto ressaltado por Soares é que esses modelos são competitivos se comparados a outras atividades agropecuárias – 32 dos 40 modelos com espécies nativas avaliados trazem retorno de investimento que varia entre 9,5% e 28,4% ao ano.

Debate: desafios para dar escala à silvicultura

O debate que se seguiu à apresentação do estudo teve a participação de Pedro Alves Neto, diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Andrea Azevedo, diretora de Sustentabilidade do Fundo JBS pela Amazônia, e Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, membro do Conselho da Marfrig e membro do Grupo Estratégico (GE) da Coalizão Brasil. A mediação ficou a cargo de Rachel Biderman. 

Em sua participação, Pedro Alves Neto, do SFB, falou sobre o trabalho que o órgão está fazendo para o avanço da implementação do Código Florestal e da agenda de regularização ambiental, e que vê um grande ponto de convergência com os resultados do estudo. “Quanto mais formos capazes de mostrar para o produtor rural a viabilidade, as taxas de retorno e o potencial de uso que a silvicultura de nativas traz, mais seremos capazes de acelerar esse potencial”, disse. Neto contou que as ferramentas desenvolvidas pelo SFB vão levar as informações necessárias aos produtores rurais para suas tomadas de decisão.

Andrea Azevedo, do Fundo JBS pela Amazônia, levantou algumas questões sobre os dados apresentados no estudo, destacando o ganho de escala como uma das principais incertezas. “O grande desafio é como fazer isso com o pequeno produtor. No Fundo, estamos entendendo que o SAF seja a cultura mais adequada. Se não adicionar carbono, fica muito difícil, devido ao longo prazo de retorno. Por isso, precisamos pensar um pouco mais no custo de transação para que esse carbono vire crédito e seja, de fato, monetizado de volta para o negócio”, disse.

A demora de retorno dos SAFs foi outro desafio destacado por Andrea: “Ainda vejo um gap de tempo muito grande, dada a dificuldade que ainda teremos com validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), estruturação de Programas de Regularização Ambiental (PRA) e tudo mais. Mas, obviamente, em um cenário com um pouco mais de tempo, me parece uma oportunidade”.

Escala e monetização dos modelos apresentados no estudo também foram questões destacadas por Roberto Waack. “Vivemos o momento de endereçar o interesse manifesto de grandes investidores do mainstream de entrar nesse jogo e a dificuldade de identificação de projetos que se enquadrem nas escalas demandadas por eles. Esse enquadramento passa, ainda, pela consolidação dessas externalidades positivas dentro das modelagens econômicas. Assim vamos começar a endereçar a questão da confiança, algo tão fundamental para que a gente avance nessa agenda”, afirmou. 

Para Waack, a segurança jurídica, também mencionada por Andrea Azevedo e Pedro Alves Neto, é um fator fundamental para o desenvolvimento de projetos. “Reflorestamento florestal não é um investimento de retorno em curto prazo. Os países que têm o maior sucesso na área são os do Hemisfério Norte, cujos ciclos de crescimento das árvores são de 60 a até 100 anos, e eles recebem investimentos. Então a discussão sobre a expectativa de prazos curtos em investimentos na área florestal deve ser contraposta à realidade de que os investimentos florestais precisam de persistência. Esse desafio é muito particularmente voltado para os investidores nacionais. Investidores internacionais convivem melhor com ciclos mais longos, mas não estão muito interessados em jogar o jogo de florestas no ambiente institucional que a gente tem vivido no Brasil”.


O documento completo pode ser acessado aqui.

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