06/2017

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Plenária traz marcos dos dois anos de Coalizão e debates sobre desafios atuais

Foto: Fernanda Macedo/Coalizão

No dia 7 de junho, a Coalizão Brasil realizou a primeira reunião plenária de 2017, na sala Crisantempo, em São Paulo. Além de marcar o aniversário de dois anos da Coalizão, o evento teve como tema para sua mesa de debate os desafios do Brasil, no momento atual de crise, para avançar rumo a uma economia de baixo carbono. O encontro contou com a presença de 86 participantes, representando 60 instituições diferentes, além de 60 pessoas que acompanharam as discussões pela transmissão online.

Luana Maia, coordenadora executiva da Coalizão Brasil, abriu o evento apresentando uma linha do tempo que reúne os principais marcos da atuação do movimento ao longo desses dois anos. A intenção desse produto é “mostrar o porquê de existir da Coalizão e como ela tem contribuído para a criação da economia de baixo carbono”, segundo Maia.

Em seguida, foi organizada uma mesa de debate, com mediação de Marcelo Furtado, facilitador da Coalizão, e Giovana Girardi, jornalista do Estadão, José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria, Juliano Assunção, diretor da Climate Policy Iniciative, e Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil.

Destaques da mesa de conversa

A Coalizão teve influência significativa, na hora e na medida certa, para alcançar vários resultados nesses anos, como mostrou a linha do tempo, segundo Penido. O empresário disse também que o Brasil ainda não avançou como deveria na implementação da meta climática (NDC).

As conquistas da Coalizão só foram possíveis porque foi definido um foco e uma atuação coletiva, segundo Biderman. “Vivemos um momento complexo e a gente tem que estar sempre alerta. Não podemos desprezar a história construída nesses dois anos, somos uns dos únicos a ter um plano, um norte”, afirmou Birderman ao se referir ao documento-base da Coalizão, com 17 propostas para uma economia de baixo carbono.

Assunção trouxe a perspectiva econômica ao analisar o momento atual da Coalizão. Para ele, a agenda de baixo carbono pode ser colocada como uma questão de eficiência econômica e representa uma oportunidade de expandir a produção agropecuária sem desmatar áreas florestais. O economista afirmou que as áreas de agricultura que passaram por processos de modernização viram, mais frequentemente, a conversão de pastagens em lavoura, ou seja, sofreram menos desmatamento para aumentar sua produtividade. Ele afirma que “no passado, projetos de infraestrutura estavam relacionados à desmatamento, mas isso não precisa ser assim. Temos instrumentos bastante eficazes para monitorar o desmatamento, principalmente na Amazônia. Precisamos desenvolver uma agenda de infraestrutura para aproveitar melhor as áreas que estão disponíveis, e, com isso, reduzir pressão por desmatamento”.

Nos dois anos de existência da Coalizão, o movimento e suas propostas foram foco da imprensa diversas vezes. No entanto, em meio à crise atual, os assuntos abordados pelo movimento perderam espaço e urgência nas redações, segundo Girardi. “Sensibilizar a imprensa é outro desafio para a Coalizão”, concluiu a jornalista.

O público participou ativamente dos debates. Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirmou que, apesar dos avanços e importantes trabalhos que a Coalizão vem fazendo, o momento atual do país é muito preocupante e coloca em risco tudo que foi construído coletivamente. “A economia de baixo carbono, justa e inclusiva é incompatível com as taxas de desmatamento e os índices de violência no campo”, disse ele referindo-se aos casos de assassinatos ou ataques a indígenas que têm se agravado. “Isso é reflexo do que o Brasil está vivendo e do que está acontecendo no Congresso Nacional. Se a Coalizão quiser manter o que está no Livro Verde e seguir sendo uma coalizão, é preciso repactuar os compromissos, tanto na ação coletiva do grupo, quanto na ação individual das entidades que fazem parte da Coalizão”, concluiu Rittl.

Os retrocessos socioambientais em curso no Congresso que vão na contramão dos objetivos da Coalizão, têm preocupado o movimento. Por isso, Roberto Waack, presidente da Fundação Renova, usou a metáfora do barco que se propõe a atravessar o oceano em busca de um sonho. “A Coalizão tinha essa perspectiva, mas na hora em que o barco vai para o mar e passa a vivenciar o oceano, vem o enjoo. Estamos vivendo esse momento do enjoo da travessia, que não é exatamente o ato heroico idealizado anteriormente. É preciso resistir a essa travessia, que a Coalizão se propôs a fazer, baseada no livro verde. A palavra-chave é norte”, defendeu Waack que reforçou a importância de repactuar as origens da Coalizão, relembrando continuamente os fundamentos básicos do movimento.

O ex-vereador de São Paulo, Ricardo Young, disse que a Coalizão é uma nova forma de organização da sociedade, que assume a diversidade como elemento fundamental e a divergência como parte da construção de um futuro comum. Young afirmou que “os ruídos são parte da construção de um futuro comum e precisam ser enfrentados nessa perspectiva”. O vereador ressaltou a importância da Coalizão influenciar as eleições de 2018, apresentando uma agenda para o país, com legitimidade e representatividade.

Por meio de seus participantes, a Coalizão representa a diversidade da sociedade brasileira e, se dentro desse fórum, “não for possível manter um diálogo e chegar a consensos entre as diferentes partes, como o Brasil poderia conseguir?”, questionou a jornalista Girardi.

Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil, reforçou que para que a Coalizão siga sendo um espaço de inteligência e de discussão sobre caminhos possíveis, é preciso confiança entre os participantes e clareza de que todos estão caminhando para um mesmo rumo.

O ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, disse que o movimento precisa reforçar seus argumentos econômicos a favor de um modelo de baixo carbono, pois o discurso predominante é a conservação dos recurso ambientais e os prejuízos ecológicos. “O Brasil aplica 50 bilhões de reais ao ano em crédito rural. A agricultura de baixo carbono precisa deixar de ser um apêndice da política de desenvolvimento rural para ser seu o cerne”, disse o ex-ministro.

“Nesse momento, o Brasil precisa de uma posição firme de alguém da sociedade, como a Coalizão, que tem uma boa representatividade”, afirmou Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

Sylvia Coutinho, presidente do banco UBS Brasil, lembrou que a realização da agenda de baixo carbono necessita de recursos e que investidores, como fundos de pensão, veem empresas e projetos sem sustentabilidade como um risco a seus retornos. “Há 70 trilhões de dólares de fundos de pensão internacionais que usam critérios de meio ambiente”, comentou Coutinho. Biderman disse que o Brasil tem que aproveitar os investimentos que estarão disponíveis com o desinvestimento das energias fósseis.

Girardi disse que é hora da Coalizão tomar decisões políticas. Nos EUA, por exemplo, frente à atitude de Trump, cidades, estados e empresas americanas deram um passo à frente dizendo que vão continuar comprometidos com o Acordo de Paris, independentemente da decisão do governo, ao abandonar o tratado.

Os pontos levantados na plenária foram debatidos durante a reunião do Grupo Estratégico da Coalizão, no dia seguinte, 08 de junho.

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