09/2016

Tempo de leitura: 6 minutos

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Workshop traz modelos econômicos e de financiamento para restauração

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Foto: Chiaki Karen Tada

Modelos de restauração florestal de nativas com fins econômicos e o financiamento para recuperação de áreas de Proteção Permanente (APP) e de Reserva Legal sem fins econômicos foram temas de um workshop realizado pela Coalizão Brasil em 30 de setembro, em São Paulo, na sede da Sociedade Rural Brasileira. Cerca de 40 pessoas participaram do evento “Modelagem econômica para reflorestamento para fins econômicos com espécies nativas”.

Na primeira parte, tiveram espaço os primeiros resultados e modelagens econômicas do projeto Verena, uma iniciativa do WRI Brasil e da IUCN, que conta com o financiamento da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF). O segundo momento foi conduzido por especialistas do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces), que apresentaram as premissas e as avaliações iniciais de um estudo feito em parceria com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Essas duas frentes têm em comum a busca por caminhos para financiar e concretizar a restauração de florestas no país. Além de o Brasil ter incluído em suas metas do Acordo de Paris a restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares, plantar florestas é uma das formas mais eficientes de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Foco no investidor


O projeto Verena teve início este ano, com o objetivo de demonstrar a viabilidade da restauração de espécies nativas com fins econômicos. No escopo do projeto estão o plantio econômico diverso (várias espécies), plantio econômico monocultivo (de uma espécie), plantio misto (exóticas e nativas) e sistemas agroflorestais. O projeto iniciou com a seleção de três cases de empresas que trabalham, cada uma à sua maneira, com essa atividade: a Amata, que entre outras atividades cultiva paricá, uma espécie de árvore nativa da Amazônia, no Pará; a Symbiosis, que planta diferentes espécies nativas no sul da Bahia; e a Fazenda da Toca, que investe no sistema agroflorestal, no interior de São Paulo.

A partir de workshops realizados nessas três empresas, com especialistas de diferentes áreas, o Verena elencou 12 dimensões de atuação, das quais duas se sobressaem: a pesquisa e desenvolvimento de silvicultura de espécies nativas (P&D) e os modelos econômicos. Esse último, principal tema do workshop, trata de como chegar até o investidor e mostrar que há menos risco e mais ganho no investimento em nativas.

Esses modelos vêm sendo elaborados pensando no olhar o investidor sobre a floresta, explicou Claudio Pontes, do WRI. “Qual a linguagem usada pelo investidor? O que ele quer entender? A modelagem econômica tem toda uma engenharia para que o investidor possa compreender, abrindo portas para entrar no jogo da restauração.” Foram avaliados custos de capital, taxas de desconto e outros itens de cada case. Alan Batista, analista de investimentos do WRI, afirmou que o objetivo é elevar o plantio de nativas ao patamar do eucalipto, percebido como um investimento de baixo risco e alto retorno. “Queremos que as nativas virem um investimento de mainstream.”

Ao final dessa primeira parte, Batista também apresentou o projeto da plataforma de P&D que está sendo trabalhado no âmbito do GT de Restauração/Reflorestamento da Coalizão. “Como vimos que pesquisa e desenvolvimento podem fazer a conta fechar, nessa plataforma atuaremos em três frentes: melhoramento genético, sistemas de produção e monitoramento.” Para saber mais sobre a plataforma leia entrevista com Alan Batista aqui e assista ao webinar do GT de Restauração/Reflorestamento aqui

Contribuições do sistema financeiro


Na última parte do workshop, GVces e Febraban apresentaram os resultados iniciais de um estudo sobre recuperação de APPs e RLs sem uso econômico, com foco em gestão e financiamento. Os biomas abordados foram o Cerrado e a Mata Atlântica. “Esse estudo acontece no contexto de uma parceria da Febraban com o GVces, que já está no terceiro ano, sobre como o sistema financeiro pode contribuir com a transição para a economia de baixo carbono”, explicou Beatriz Secaf, da área de sustentabilidade da federação. O objetivo da apresentação foi discutir as premissas usadas e receber contribuições para tornar robusto o estudo, que deverá ficar pronto em cerca de um mês.

Inicialmente, o GVces realizou 18 entrevistas com produtores, representantes do setor financeiro e especialistas, para identificar os principais entraves para o financiamento desse tipo de restauro, que não gera retorno econômico de forma direta, mas alta externalidade positiva para a sociedade. Entre os desafios, o fato de que, para garantir o retorno do financiamento, o banco avalia os resultados da atividade principal da propriedade, que precisam ser rentáveis o suficiente para bancar o pagamento à instituição. Outra dificuldade é o alto custo da observância e monitoramento para avaliar se a restauração está realmente acontecendo.

“Há uma série de pequenos entraves, além de tudo isso ser uma novidade para o setor. Com o estudo, queremos exatamente encontrar pontos para destravar o processo “, afirmou Paula Peirão, do GVces. A análise buscou entender quanto da renda do produtor ficaria comprometida para fazer a adequação ambiental ou restauração florestal. Dentre as primeiras conclusões, estão a importância de haver incentivos econômicos para o proprietário fazer a adequação e de se precificar as externalidades.

Na etapa seguinte, o projeto deverá focar em avaliar o que pode mudar nas linhas de crédito existentes e como incentivar o proprietário rural a obter financiamento para fazer restauro. A capacitação de agentes do setor financeiro e proprietários rurais, bem como a transparência e comunicação de informações, estão entre os pontos fundamentais a serem considerados para o êxito da restauração florestal no país.

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