Nº 82
10/2023

Tempo de leitura: 7 minutos

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Coalizão leva debates sobre restauração e rastreabilidade em Nova York

Desafios para alavancar soluções baseadas na natureza e a pecuária sustentável na Amazônia foram temas de painéis

Mariana Sarmiento (Terrasos), Bernardo Strassburg (re.green), Marcelo Behar (Natura &Co) e Vijay Vaitheeswaran (The Economist), no painel “Negócios para Natureza”. Foto: Ricardo Acioli

O papel do setor privado na alavancagem de soluções baseadas na natureza (SbN) e as formas de promover a rastreabilidade na cadeia de pecuária na Amazônia foram temas de dois debates que a Coalizão promoveu em Nova York, em setembro.

O primeiro painel, “Negócios para Natureza”, organizado em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a re.green, fez parte da programação da Climate Week NY e reuniu cerca de 140 pessoas no Yale Club. Moderado pelo jornalista Vijay Vaitheeswaran, editor da revista The Economist, o debate contou com representantes de diferentes segmentos do setor privado: Marcelo Behar, vice-presidente de Sustentabilidade da Natura &Co; Catherine Martini, senior project management de Carbon Removal da Microsoft; Mariana Sarmiento, CEO da Terrasos; e Bernardo Strassburg, fundador e cientista-chefe da re.green.

Na abertura do evento, Renata Piazzon, cofacilitadora da Coalizão e diretora-geral do Instituto Arapyaú, destacou o papel da iniciativa privada na descarbonização de atividades econômicas.

“A transição econômica precisará de US$ 4 trilhões por ano se quisermos atingir net zero até 2050. O setor privado precisa ser nosso maior aliado”, afirmou.

Visão de longo prazo

Um dos pontos mais mencionados pelos painelistas foi a importância de engajar as comunidades locais para que projetos baseados na natureza tenham o resultado esperado.

“Em nossos projetos, focamos em ciência e envolvemos as comunidades, mostrando o que é relevante para elas”, disse Mariana Sarmiento, da Terrasos, empresa colombiana especializada na operação de investimentos ambientais.

Marcelo Behar, por sua vez, destacou que a Natura busca estabelecer relações de longo prazo com comunidades locais. A estratégia é adotada há cerca de 20 anos na Amazônia e, segundo ele, deve se tornar uma prática comum para todos os negócios.

Bernardo Strassburg, fundador da re.green, reforçou a importância de se buscar a restauração de florestas, garantindo sua resiliência e capacidade de recuperação mesmo após danos, como incêndios.

Strassburg considera que a restauração de florestas é uma “solução de longo prazo” e requer ações do poder público, como a promoção de iniciativas junto às comunidades locais para valorização da vegetação nativa.

“Se estamos restaurando uma área, é porque estava degradada por algum motivo. Precisamos entender as necessidades que levaram a essa degradação e, em conjunto, abordar cada uma delas. Precisamos pensar em como a comunidade terá interesse de longo prazo na floresta em pé”, defendeu o cientista.

Catherine Martini, da Microsoft, questionou como tornar o mercado voluntário de créditos de carbono mais confiável para investidores. Esta medida envolveria capital paciente e maior tolerância a riscos. “É preciso ter mais diálogos sobre soluções baseadas na natureza com financiadores”, avaliou. “Os investimentos devem ser feitos pelo setor privado sabendo que o retorno não será tão rápido. Ainda assim, precisamos que sejam feitos.”

Expectativa para a COP 30

Logo após o debate, Thiago Picolo, CEO da re.green, conversou com o governador do Pará, Helder Barbalho, sobre a conservação da Amazônia e a realização em 2025, em Belém, da Conferência do Clima da ONU (COP 30). De acordo com Barbalho, é preciso um novo modelo econômico para a região. “O que pode emergir desse cenário é a agenda da floresta viva: biodiversidade, bioeconomia e concessões de restauro em áreas públicas e atividades de restauro em áreas privadas.”

Segundo o governador, o Pará está fazendo a transição para um modelo de uso do solo mais sustentável, uma iniciativa que será apresentada na COP: “Vamos chamar o mundo para essa mudança de paradigma.”

A gravação do painel e da entrevista está disponível no YouTube da Coalizão, em inglês e em português.

Pecuária sustentável na Amazônia

O segundo painel promovido pela Coalizão, intitulado “Reavaliando a cadeia de fornecimento da pecuária na Amazônia: a aliança entre produção sustentável e desmatamento zero”, foi organizado com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Participaram do evento Fernando Sampaio, diretor de Sustentabilidade da Abiec e membro do Grupo Estratégico (GE) da Coalizão, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, Leila Harfuch, sócia-gerente da Agroicone, Kevin Karl, professor da Universidade de Columbia, e Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio da Amazônia Legal. A moderação foi de Isabella Leite, do Painel Científico para a Amazônia.

Izabella Teixeira destacou que a nova dinâmica global enxerga a natureza como um ativo. Diante dessa perspectiva, é preciso entender quais decisões estratégicas devem ser tomadas em relação à rastreabilidade.

Já Sampaio avaliou sistemas de rastreabilidade para a cadeia da carne. O método ideal, segundo ele, seria a identificação individual de animais por meio de brincos e chips. Há, no entanto, custos que inviabilizam a adoção do sistema a curto prazo, como infraestrutura tecnológica e preparação de mão de obra.

O diretor de Sustentabilidade da Abiec, então, recomendou o uso da Guia de Trânsito Animal (GTA), criada com finalidade sanitária, como uma ferramenta a ser incorporada para o controle ambiental. “Achamos que é possível usar a GTA para isso. É uma solução de curto prazo e baixo custo”, afirmou.

Leila Harfuch, que colidera a Força-Tarefa Finanças Verdes da Coalizão, sublinhou que o principal desafio da indústria da carne é o monitoramento dos fornecedores indiretos, ou seja, como acompanhar o gado desde o nascimento. Para isso, Agroicone e Abiec defendem que dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) sejam incorporados à GTA. Dessa forma, seria possível conferir o histórico de imóveis rurais por onde o animal passou. A proposta, porém, traz desafios, como a necessidade de adaptação e compatibilização de sistemas, em especial os mantidos por governos estaduais. 

Assista ao debate no YouTube da Coalizão. A Coalizão e a Abiec também publicaram um artigo com os principais pontos do painel na Página 22.

Veja algumas fotos das atividades:

Foto: Ricardo Acioli

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