Entre desafios destacados estão temas como segurança alimentar, cumprimento do Código Florestal, engajamento do setor financeiro e o papel geopolítico do país no mundo
A Coalizão Brasil consolidou-se, ao longo de sete anos, como um movimento em que o diálogo entre diferentes pontos de vista acontece de forma efetiva e leva a iniciativas concretas, como pode ser atestado pelas publicações de diversos documentos, consolidação de parcerias e ações e articulação com diferentes esferas do poder público.
Cada conquista ou avanço na direção da visão de futuro do movimento traz novos desafios. Quais serão e como reagir a eles? Abaixo, os atuais facilitadores e membros do Grupo Estratégico (GE) e do Grupo Executivo (GX) do movimento compartilham suas reflexões sobre os próximos passos da Coalizão.
As lideranças destacam a importância de se manter a promoção do diálogo multissetorial e adiantam alguns temas que deverão ganhar destaque na agenda do movimento, como segurança alimentar, cumprimento do Código Florestal, o papel geopolítico do país no que se refere ao uso da terra e a visão de futuro traçada pelo movimento para 2030 e 2050.
“A Coalizão é um dos coletivos mais ativos e engajados hoje no mundo para avançar na direção da descarbonização da economia agrícola e florestal. Desde seu início, tem aportado importantes conteúdos e recomendações de ação concreta em prol desse objetivo.
No futuro, é fundamental ampliarmos nosso alcance e entregas em temas como mercado de carbono e portfólio de projetos nesse setor, investir nos mecanismos para viabilizar o pagamento por serviços ambientais e ampliar alianças para viabilizar a economia florestal de larga escala e baixo carbono, principalmente com pesquisa e desenvolvimento para espécies nativas. Além disso, temos muito a fazer para cumprir Código Florestal em sua integridade, a fim de garantir negócios sustentáveis no nosso país, bem como segurança hídrica, alimentar e mitigação e adaptação climáticas.”
“A Coalizão vem cumprindo bem o seu propósito, que é fazer sentar ao redor da mesma mesa aqueles que pensam diferente para dialogar. Para o futuro, os membros devem almejar que essa capacidade de diálogo, dedicação, engajamento e compromisso com o desafio de construir convergências em cima da pluralidade seja cada vez mais fortalecida.
Os propósitos e a missão que nos aproximaram lá atrás têm que estar sempre presentes, porque são a nossa bússola. Neste ano eleitoral, em particular, a Coalizão tem que ter capacidade de interlocução e articulação para fazer valer os pontos que nos permitem enriquecer o debate neste momento tão importante para nosso país.”
“O primeiro ponto é que o conflito na Ucrânia e a mudança no jogo geopolítico deixam claro que estamos numa nova realidade, e o Brasil terá um novo papel nesse contexto. O desafio para a Coalizão é ver qual será a contribuição do Brasil para o mundo.
O segundo ponto é que, historicamente, falamos de clima, floresta e agricultura, quando na verdade estamos falando de clima e natureza. Dentro dessa equação, a questão dos alimentos é muito importante. Isso será reforçado, com toda a dimensão de fome que vai aparecer no mundo, levando a uma reflexão sobre redução de desperdício, agricultura mais sustentável, proteínas alternativas e tudo mais. Deveremos ter, na Coalizão, um olhar mais específico sobre isso.
Outro ponto que acho importante é a questão de finanças e investimentos, porque, para viabilizar a transformação necessária nos sistemas energético, alimentar e agrícola, precisamos transformar o sistema financeiro e fazê-lo trabalhar para oferecer uma solução equitativa e positiva para o clima e para a natureza.”
“A Coalizão ocupou um espaço relevante e significativo na agenda brasileira de uso da terra e, até certa dimensão, também na global. O futuro do movimento, a curto e médio prazos, é continuar a mostrar caminhos, indicar desafios e contrapor visões negativas acerca dessa agenda. A longo prazo, o desafio é ainda maior, pois se trata de fazer valer sua visão, que pressupõe um novo modelo de uso da terra, em que se aumenta a produção sem desmatar mais. É algo complexo de implementar e leva tempo, tanto que nossa visão considera 2030 e 2050 para o atingimento dessas grandes metas.”
“O cerne da Coalizão é a busca por uma nova economia de baixo carbono, que poderá tornar o Brasil um dos países com maior potencial estratégico frente ao combate e adaptação às mudanças climáticas.
Pensando os próximos anos, o movimento se mostra ainda mais primordial para que consigamos atingir resultados robustos, com foco na perenidade econômica e socioambiental dos diversos setores do país. Temos um documento, o Visão 2030 e 2050, que mostra o desenho de um Brasil próspero, justo e que nos dá orgulho imaginar vivendo nele. Então, nosso papel é manter a união entre os diversos setores para alcançarmos esse país que tanto queremos, mas ainda mais, que tanto sabemos ser possível.”
“A Coalizão tem sido um espaço de diálogo, de debate franco, sincero e aberto na construção de políticas públicas do país, e de forma integrativa com setor privado, academia, e organizações da sociedade civil. Um exemplo de maturidade e de espaço de civismo. A Coalizão representa, talvez, o maior relacionamento cívico pró-desenvolvimento do Brasil ora em andamento no nosso país. É sempre uma honra fazer parte desse processo e já estamos olhando para os 14 anos, 21 anos. Ou seja, vida longa à Coalizão!”
“Para falarmos da Coalizão no curto, médio e longo prazos, temos que olhar lá atrás, para a fundação do movimento. A Coalizão surgiu porque não havia consenso entre floresta e agricultura vinculado ao clima. Não havia uma narrativa, e estávamos às vésperas do Acordo de Paris. Era preciso criar uma voz uníssona de Estado para atuar na questão climática.
O formato foi extremamente feliz e inovador, antecipando uma tendência de colaboração na busca de consenso, mas com governança equilibrada. Há uma atuação muito de fórum, e estamos em uma nova etapa, de organizar melhor esse locus de debate na construção de uma agenda para temas tão importantes para o país.
O futuro da Coalizão tem a ver com continuar a valorizar seus atributos, criando consensos, com uma boa governança e utilizando de forma inteligente a sua grande rede.”