06/2023

Tempo de leitura: 7 minutos

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“Governo tem boas intenções, mas falta capacidade de implementação”, diz Marcelo Furtado

Em entrevista, membro do Grupo Estratégico afirma que é preciso pensar em como resgatar uma visão estratégica para o país

A 1ª Plenária de 2023 da Coalizão Brasil acontecerá nesta quarta-feira, 14 de junho, em meio a expectativas sobre como será o segundo semestre para o movimento e o governo federal, que completa seis meses de gestão. Os próximos meses trarão uma série de eventos internacionais em que o Brasil precisa reafirmar sua posição de liderança ambiental, como a Cúpula da Amazônia, que acontecerá em agosto em Belém, a Climate Week Nova York, em setembro, e a COP 28, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), no fim de novembro.

As oportunidades para o país se projetar nas rodas de negociações internacionais serão tema do debate “O Brasil no mundo, o mundo no Brasil: clima, florestas e agricultura na agenda das cúpulas globais”, que ocorrerá na plenária da Coalizão. O tema foi sugerido por Marcelo Furtado, membro do Grupo Estratégico (GE) do movimento e diretor da Nature Finance, que será o mediador do painel.

Em entrevista ao boletim da Coalizão, Furtado comenta sobre o contexto político do Brasil, o tema do painel e as possíveis contribuições do movimento para o atual cenário do país. 

“Os indicadores dos últimos seis meses mostram que o atual governo tem boas intenções, mas falta capacidade de implementação. Nós devemos nos perguntar o que fazer para resgatar uma visão estratégica, que una os atores para um Brasil que queremos.”

O Brasil atual

“Estamos saindo de um período em que as forças democráticas e a agenda ambiental foram muito tensionadas. Pudemos ver que as conquistas democráticas e sustentáveis que tivemos nos últimos 30 anos foram resilientes, mas talvez não tanto quanto esperávamos. Agora precisamos atender, de forma urgente, às demandas da sociedade brasileira de geração de emprego e renda, sob o risco de voltarmos a um governo que não responda aos desejos de um país solidário, democrático e sustentável. Por esse motivo, precisamos continuar dialogando, especialmente com aqueles que pensam diferente, mas são democratas e a favor da sustentabilidade.

Os indicadores dos últimos seis meses mostram que o atual governo tem boas intenções, mas falta capacidade de implementação. Nós devemos nos perguntar o que fazer para resgatar uma visão estratégica, que una os atores para um Brasil que queremos, considerando o que diz o relatório do IPCC (o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), de que temos menos de 50% de chances de manter o aquecimento global em menos de 1,5 grau Celsius, e as potencialidades e vantagens competitivas do país numa economia em que clima e natureza podem ser os viabilizadores.”

O Brasil no mundo

“Em 2023, teremos dois grandes momentos. A Cúpula da Amazônia, quando discutiremos nosso plano para a região e a oportunidade de construir planos estratégicos para ela, dessa vez pensando em Pan Amazônia, o que faz muito mais sentido em termos de bioma. Em seguida, teremos a COP 28 (28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que acontece no final do ano. Depois chega 2024, quando o Brasil assumirá a presidência do G20, com a oportunidade de liderar as maiores economias mundiais na busca por soluções globais. Em 2025, acontecerá ainda a COP 30 no Brasil, que será uma ocasião importante, pois marcará os dez anos do Acordo de Paris. É uma oportunidade única para o país provocar o alinhamento das agendas climáticas e ambientais de todo o globo.

Temos todas essas oportunidades geopolíticas à nossa frente, e a Coalizão deve se questionar sobre o que o Brasil quer do mundo e o que o mundo quer do Brasil. Precisamos definir um foco de atuação que construa uma economia alinhada a clima, natureza e igualdade e que gere emprego e renda. E implementar as ações. Mas o que realmente o Brasil quer do mundo? Recursos financeiros? Para fazer o quê? Qual o plano integrado?”

O mundo no Brasil

“Estamos vendo um chefe de Estado atrás do outro, um ministro atrás do outro vindo ao Brasil querendo conversar e anunciar projetos. Alguns estão fazendo um cheque maior, outros um cheque menor, mas acho que até essa questão do valor é menos relevante, porque, se tivermos um alinhamento sobre projetos prioritários, um direcionamento único, esses recursos virão.”

O papel da Coalizão Brasil

“A Coalizão foi feita para alinhar os setores em prol de uma economia positiva para clima, natureza e equidade social. Essa vocação está descrita no nosso documento de fundação, o Livro Verde. Então é momento de fazer uma análise de nós mesmos e de como estamos respondendo ao andamento das questões que nos são caras. Podemos escolher esperar o governo tomar a iniciativa e resolver todas as questões. Podemos ser reativos e criticar, apenas, ou celebrar vitórias. Sempre sugerimos que o Plano Safra só faria sentido se ele fosse 100% um Plano ABC. Agora ele é. O que faremos? Missão cumprida? Não. Acredito que nosso papel é cobrar e contribuir.

A pergunta importante para a Coalizão é: estamos vivendo o compromisso de cobrar e construir tudo o que escrevemos em nosso documento ‘O Brasil que vem’? Os setores representados pela Coalizão têm potencial para fazer parte da solução dos problemas do país. O que podemos fazer proativamente para construir a nova realidade que queremos? Não acredito que setor privado e sociedade civil estejam se mobilizando de maneira articulada e integrada. A Coalizão deve, portanto, junto a outras entidades, definir as prioridades. Temos os três eixos definidos – segurança alimentar e combate à fome; geração de emprego e renda; e combate ao desmatamento. Então, agora, vamos definir as ações estratégicas para isso. Acredito que a plenária pode ser decisiva para sairmos com esse plano descrito e começar a implementar as ações para um Brasil com desenvolvimento sustentável, justo e inclusivo.”

1ª Plenária da Coalizão Brasil 2023

14/06, das 14h às 17h

Arena 8 do Farol Santander – Rua João Brícola, 24, São Paulo

Inscrições: bit.ly/plenaria2023-1

Haverá também transmissão pelo YouTube da Coalizão: youtube.com/coalizaobrasil

Agenda

14h – Abertura com os facilitadores

14h20 – Agendas prioritárias da Coalizão em 2023 (líderes das Forças-Tarefa)

15h20 – Painel “O Brasil no mundo, o mundo no Brasil: clima, florestas e agricultura na agenda das cúpulas globais”.

Debatedores: André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores; Joanna Martins, CEO da Manioca Brasil; Larissa Wachholz, diretora executiva da Vallya Agro; e Suzana Kahn, vice-diretora da Coppe/UFRJ. 

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