Nº 86
02/2024

Tempo de leitura: 7 minutos

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Novo cofacilitador quer aproximação maior da Coalizão com os diversos ‘agros’

Fernando Sampaio ressalta a importância do movimento para a agenda do G20 e da COP 30, gerando conhecimento e pensando o desenvolvimento sustentável para o país

Foto: Divulgação

Fernando Sampaio, engenheiro agrônomo e diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), assumiu a cofacilitação da Coalizão Brasil para o biênio 2024-2025. Ele, que já integrava o Grupo Estratégico do movimento e é um dos líderes da Força-Tarefa Rastreabilidade e Transparência, passa a dividir a facilitação com Renata Piazzon, diretora geral do Instituto Arapyaú. Terá à frente importantes eventos, como o G20, com o Brasil na presidência ao longo deste ano, e a COP 30, que acontecerá em Belém, em 2025.

“Precisamos identificar os grandes temas que têm a ver com o trabalho da Coalizão nesses eventos e definirmos onde queremos estar e influenciar. Juntos, com os diversos setores que compõem a rede, podemos trabalhar por uma agenda positiva para o clima e que também encare os desafios para promovermos o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país”, diz.

Em entrevista a este boletim, Sampaio fala também sobre seu papel de trazer os diferentes atores do agro – “há uma diversidade imensa no agro, não é uma coisa só” – para mais próximo da Coalizão e de atuar sobre temas que lhe são caros, como a transição energética e sistemas alimentares.

Leia os principais trechos da conversa.

Quais são suas principais metas como cofacilitador?

A Coalizão e todo o país estão em um momento muito especial, de preparação para a Conferência do Clima (COP) em Belém, daqui a menos de dois anos. Estive na COP 28, em Dubai, e voltei com dois debates muito vivos na cabeça: o da transição energética e o de sistemas alimentares. Precisamos traduzir e entender esses temas na realidade brasileira. Essa é uma grande meta para mim: tratar dessas duas questões no meu setor, que é o da agropecuária, um dos principais atores especialmente no caso de sistemas alimentares. Considero que essa pode ser uma das minhas grandes entregas. Para isso, é preciso trazer mais setores do agro para o movimento. O Brasil é um dos poucos lugares do mundo que consegue produzir mais e melhor e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto no meio ambiente e conservar a biodiversidade. Temos que liderar o debate e dar esse exemplo ao mundo. 

E como está esse movimento de maior aproximação da Coalizão com o agro? O que podemos esperar para 2024?

Primeiro, é preciso observar que a gente fala do agro com se fosse uma coisa só. Não é. Existe uma diversidade muito grande, desde agroindústrias exportadoras conectadas ao mercado internacional, até produtores que estão na ponta e que durante muito tempo só enxergaram a agenda de desenvolvimento sustentável na forma de embargo e burocracia. Há um trabalho importante a ser feito para que os produtores vejam as oportunidades, e isso tem a ver com comunicação, mas também com políticas e incentivos que criem uma agenda positiva para eles.

O segundo ponto é a urgência de desvincular a maior parte do agro nacional, que trabalha dentro da lei e tem avançado em produtividade e tecnologia, daquela outra parte minoritária que é ilegal e que acontece por ausência do poder governamental, com invasão de terras, práticas de grilagem e promoção de conflitos. Vamos trabalhar para erradicar o que há de errado.

Então, em 2024, temos esse trabalho de trazer mais organizações para o debate, dialogando tanto com a agricultura empresarial quanto com a familiar. Esta última é um pedaço importante do setor, mas que é sempre esquecido, até por uma dificuldade de encontrar com quem fazer a interlocução.

Qual é o seu diagnóstico em relação à influência da Coalizão junto aos diversos atores e setores que a compõem?

Não é possível separar o contexto que a Coalizão tem vivido do contexto geral do país. Estamos saindo de um momento de polarização extrema. A polarização diminuiu, mas não acabou. Há temas complexos a serem enfrentados na agenda de agropecuária e sua relação com a biodiversidade, conservação ambiental e produção de alimentos. Ninguém e nenhuma instituição ou setor sozinho conseguirá dar conta dessa complexidade. Por isso, o papel da Coalizão ainda é extremamente necessário.

Como é hoje a relação da Coalizão com o poder público?

A Coalizão reúne uma inteligência coletiva relevante. Vejo o trabalho das Forças-Tarefa, por exemplo, como importante para consolidar esse conhecimento técnico e fornecer a base para a construção de políticas e projetos do governo federal ou para aprimorar o que já vem sendo discutido em projetos de lei. Temos uma meta de nos aproximarmos mais de governos subnacionais e vejo que há uma grande atuação de organizações membros da Coalizão nessa direção. Precisamos aproveitar essa rede de relações já estabelecidas.

Há grande expectativa por parte de todos os setores da sociedade por eventos como o G20, com o Brasil na presidência este ano, e a COP 30, que acontecerá em 2025, na Amazônia. Quais podem ser as principais contribuições da Coalizão para esses eventos e que lições de casa são necessárias para isso?

Acho que, tanto para o G20 como para a COP, precisamos identificar os grandes temas que têm a ver com a nossa atuação, onde queremos estar e influenciar. E estamos fazendo esse trabalho.

A Coalizão sempre se pautou pela ideia de que a gente só faz uma agenda positiva para o clima trabalhando com todos os setores, com foco no desenvolvimento sustentável. Isso é muito forte aqui dentro, principalmente pensando os estados amazônicos – queremos conservar a floresta, mas é necessário prover educação, geração de renda e infraestrutura para quem vive lá. E a Coalizão pode atuar fortemente junto ao governo para, por exemplo, ajudar a desenvolver a agenda de bioeconomia no país, valorizando os produtos da floresta, gerando desenvolvimento e renda a partir da conservação. E, claro, sempre pensando em soluções para promover uma transição energética e sistemas alimentares de baixo carbono. 

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