Rede apresentou resultados do ano e apontou estratégias para país adotar na COP 30, como sinergia entre as agendas de clima e biodiversidade
Conter a escalada das crises do clima e da biodiversidade exige ações urgentes no Brasil e no mundo. É tempo de promover a convergência entre diferentes setores e implementar ações concretas em prol do desenvolvimento sustentável. Esta mensagem deu o tom da 2ª Plenária da Coalizão em 2024, realizada nesta quinta-feira (5) em São Paulo, acompanhada por cerca de 90 pessoas presencialmente e mais de 500 online, no canal do YouTube do movimento.
As atividades e a influência da Coalizão alcançaram proporções inéditas em 2024. A rede superou o patamar de 400 membros e promoveu 119 reuniões de suas forças-tarefa. Houve 78 diálogos com diferentes instâncias de poder público e 31 articulações relacionadas à agenda internacional. O movimento organizou ou participou de 25 eventos e divulgou oito posicionamentos, manifestando-se em temas como mercado de carbono e meta climática brasileira.
O ano foi marcado, ainda, pelo lançamento de uma nova versão do Observatório da Restauração e Reflorestamento e de quatro publicações, incluindo um estudo sobre rastreabilidade da carne bovina no país, feito em parceria com organizações e empresas atuantes no setor e entregue ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A plenária contou também com a troca na cofacilitação da Coalizão. Renata Piazzon, diretora geral do Instituto Arapyaú, completa neste mês seu biênio à frente do movimento e dará lugar, a partir de janeiro de 2025, a Karen Oliveira, diretora para Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil. Karen, que já integrava o Grupo Executivo da rede, atuará ao lado de Fernando Sampaio, diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
“É uma honra estar nessa posição e um grande desafio, pois os próximos dois anos trazem muitas expectativas com a COP 30, os 10 anos do Acordo de Paris e da Coalizão, e as eleições para o governo federal em 2026”, declarou a nova cofacilitadora. “Tenho certeza de que, com nosso trabalho em parceria, contando com cada um de vocês, podemos fazer a diferença e contribuir para resultados de conservação cada vez melhores.”
Atuação das forças-tarefa
Lideranças de três forças-tarefa e do grupo de trabalho (GT) interno sobre a meta climática brasileira (NDC) foram convidadas para relatar os avanços em seus trabalhos.
Andrea Bonzo, colíder do GT, destacou que a Coalizão reuniu contribuições para a atualização da NDC e para o Plano Clima, em um processo de consulta que envolveu os diferentes setores que compõem a rede.
Fernando Sampaio – que, além de cofacilitador, é um dos líderes da Força-Tarefa (FT) Rastreabilidade e Transparência –, relatou os esforços empreendidos ao longo do ano para aumentar a incidência da Coalizão na criação de políticas públicas relacionadas ao setor, fundamental para assegurar a credibilidade e a sustentabilidade das exportações brasileiras.
Ainda no campo da política pública, Mariana Barbosa, colíder da FT Restauração, lembrou das contribuições feitas pela rede à construção do novo Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). A restauração ecológica foi a pauta prioritária da Coalizão em conferências internacionais em 2024, sendo debatida na Climate Week Nova York e nas conferências da ONU sobre Clima (COP 29) e Biodiversidade (COP 16).
A FT Silvicultura de Nativas também levou sua agenda a diferentes palcos. Rodrigo Ciriello, colíder da força-tarefa, ressaltou que a Coalizão organizou diversos simpósios sobre o tema ao longo do ano. Outra frente que mereceu destaque foi a implementação de sítios de pesquisa sobre a silvicultura de espécies nativas na Amazônia e na Mata Atlântica, desenvolvidos com organizações parceiras e financiamento do Bezos Earth Fund.
‘Caminhos para a COP 30’
O Brasil terá uma imensa responsabilidade para garantir o sucesso da próxima Conferência do Clima, que será sediada em Belém. O tema foi explorado no debate “Caminhos para a COP 30: Estratégias do Brasil para a liderança climática global”, realizado no último bloco da plenária, com mediação de Renata Piazzon.
Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), enfatizou a necessidade de que o país reforce a incorporação de estratégias de captura de carbono em sua agropecuária. Esta estratégia, segundo ela, tornaria o Brasil uma referência internacional em mitigação de emissões.
Pedro de Camargo Neto, consultor empresarial e integrante do Grupo Estratégico da Coalizão, apontou a necessidade de que as metas climáticas brasileiras sejam mais ambiciosas. Criticou, assim, o prazo estabelecido pela NDC para a erradicação do desmatamento ilegal – até 2030 –, reivindicando urgência no combate aos crimes ambientais.
Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), reforçou que o país precisa estabelecer uma sinergia entre as agendas de clima e biodiversidade na COP 30, promovendo as soluções baseadas na natureza. Já Andreia Coutinho Louback, diretora-executiva do Centro Brasileiro de Justiça Climática, elegeu a justiça climática e o racismo ambiental como pautas prioritárias para a liderança do país, defendendo a inclusão de comunidades mais vulneráveis no debate.
A advogada Caroline Prolo, sócia da Fama re.capital e cofundadora da LACLIMA, ressaltou que o Brasil deve, na presidência da COP 30, buscar a superação da dicotomia entre países ricos e em desenvolvimento, promovendo um multilateralismo climático unificado.
Assista aqui à 2ª Plenária da Coalizão em 2024.