01/2023

Tempo de leitura: 8 minutos

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‘A Coalizão é um microcosmo da realidade brasileira’, diz Rachel Biderman

Vice-presidente da Conservação Internacional para as Américas deixa a cofacilitação da Coalizão após dois anos e faz um balanço do período à frente do movimento

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Rachel Biderman e sua sucessora na cofacilitação da Coalizão, Renata Piazzon, diretora executiva do Instituto Arapyaú. Foto: Fábio Vieira

Depois de dois anos como cofacilitadora da Coalizão Brasil, de dezembro de 2020 a dezembro de 2022, Rachel Biderman passa o cargo para Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú. Em seu tempo à frente da organização, Biderman, que é vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional (CI), representou o movimento em grandes eventos climáticos, na articulação de pautas de desenvolvimento sustentável no Congresso Nacional e na institucionalização da organização.

Em entrevista para este boletim, ela destaca a qualidade da contribuição dos membros da Coalizão para o avanço da agenda de proteção, conservação, uso sustentável das florestas, agropecuária e adaptação às mudanças climáticas.

Como você analisa seus anos à frente da cofacilitação da Coalizão?

Foram dois anos difíceis, considerando o cenário político brasileiro. Acompanhamos diariamente as alterações legislativas no Congresso Nacional e as mudanças na gestão pública de temas ambientais e na agenda da agricultura, o que nos exigiu muita atenção, já que as decisões tomadas no Congresso ou no Executivo poderiam alterar os objetivos e o rumo que o Brasil traçou quando aderiu ao Acordo de Paris. Passamos muito tempo em conversas com os congressistas para garantir que o país siga em direção a uma economia de baixo carbono.

Tenho orgulho do que realizamos também a nível internacional, com presença nas Conferências do Clima (COPs) e na Climate Week, em Nova York, mostrando o Brasil que está trabalhando pela agenda de clima. O setor produtivo e o setor não-governamental sempre levaram para esses espaços internacionais suas propostas de uma economia de baixa emissão de gases de efeito estufa, e nós estivemos à frente desse trabalho.

O que você destaca como principais focos de atuação da Coalizão nos últimos dois anos?

Uma questão recorrente e muito importante é o trabalho que tem sido feito em prol da implementação e cumprimento do Código Florestal. Acreditamos que isso é fundamental para reduzirmos o desmatamento e, consequentemente, as emissões, contribuindo para que o Brasil alcance suas metas climáticas firmadas internacionalmente.

Outra questão importante em que a Coalizão tem trabalhado é a restauração florestal. Essa é uma alternativa já reconhecida como uma das soluções para o desafio climático, que pode recompor áreas degradadas e contribuir no esforço de conservação e serviços ambientais. Esse processo pode ocorrer de maneira produtiva, com fins comerciais. Nesse sentido, temos um grupo bem ativo na Coalizão e posso destacar o Observatório da Restauração e Reflorestamento como sendo uma das grandes entregas nesse setor.

Restauração florestal tem sido um dos meus focos desde que entrei na Coalizão, porque acredito que o Brasil tem muito potencial para entregar a todo o planeta soluções baseadas na natureza ligadas à economia florestal. Já somos grandes nesse setor e queremos ampliar nossa participação e ganhar escala. A Coalizão tem contribuído muito em sua atuação junto à cadeia da restauração, envolvendo a academia, as organizações não governamentais, o setor privado e as comunidades rurais.

Ainda, durante o período eleitoral de 2022, trabalhamos ativamente com a formação de um comitê com membros dos grupos Estratégico e Executivo e uma campanha especial nas redes sociais, que chamamos de Rota Eleições. Tudo isso culminou com a formulação de recomendações consolidadas em um documento para os candidatos.

Na sua opinião, qual a maior virtude da Coalizão?

Sem dúvida, é a qualidade da contribuição de seus membros. São pessoas extremamente comprometidas com a geração de conhecimento, a proteção dos recursos naturais e o estímulo a uma economia avançada, que leva em consideração o tema dos desafios climáticos. Na Coalizão, temos alguns dos melhores profissionais em suas áreas e uma capacidade convocatória muito grande. Somos um microcosmo da realidade brasileira e, a partir disso, geramos muito conteúdo para os tomadores de decisão, incluindo ministérios da Agricultura, da Economia e do Meio Ambiente e vários dos deputados e senadores do Congresso Nacional. Essa tem sido a tônica do nosso trabalho, um aporte de conteúdo bastante denso do ponto de vista técnico.

Que legado você considera deixar para o movimento?

Eu citaria a institucionalização da Coalizão, algo pelo qual batalhei com muita determinação. Junto com outros vários atores, liderei a criação do Instituto de Apoio à Coalizão, que é uma associação sem fins lucrativos. Para mim, isso foi gratificante, porque acredito que movimentos de impacto no país precisam se profissionalizar, e criar uma institucionalidade é uma das formas de fazer isso. Acredito ter contribuído também com minha experiência na área de governança.

O que a Coalizão significou para seu crescimento pessoal e profissional?

É muito difícil descrever. Foi um enorme prazer trabalhar com pessoas tão sérias, dedicadas, determinadas e comprometidas com o Brasil. Gente persistente, que atua sem descanso para que o país possa ser uma liderança na economia de baixo carbono. É um grupo multidisciplinar de pessoas de alta capacidade e excelente formação. É um enorme privilégio poder fazer parte desse grupo e poder apoiá-los. Acabei formando amigos que levarei para a vida.

Além disso, também ganhei acesso a um setor com o qual eu tinha pouco contato, o agro. Fiquei muito feliz de ver a ambição, a seriedade e a profundidade com que eles tratam os temas da agenda agroambiental. A Coalizão traz o que tem de melhor no Brasil para uma agricultura de baixo carbono, honesta, impactante e que, acredito, dará conta do desafio da segurança alimentar do planeta, com líderes preocupados com essas questões.

A partir de agora, como você pretende atuar na Coalizão?

Nos próximos meses, estarei junto à Renata Piazzon, que assume a liderança na representação da sociedade civil, para ampará-la nesse início, assim como os que me antecederam fizeram comigo.

Além disso, seguirei no Grupo Estratégico, onde tenho um papel ligado à governança e à captação de recursos para a Coalizão. Também atuo em relação à política climática, por conta de minha formação em Direito. Trago, ainda, a visão da CI, instituição onde trabalho e que é muito ligada a soluções baseadas na natureza para o desafio climático, negócios sustentáveis da biodiversidade e conservação e restauração de ecossistemas.

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