Debate sobre as expectativas para o país no setor agroambiental aconteceu como parte da 2ª Plenária de 2022 da Coalizão
André Nassar, Fabiano Contarato, Mariane Crespolini, Izabella Teixeira e Rachel Biderman em debate na plenária da Coalizão. Foto: Fábio Vieira
Buscar o ponto de convergência e concordância na pauta agroambiental entre os diversos atores – que por vezes parecem divergentes – é o caminho nesse período em que o país busca se recolocar no protagonismo na agenda do clima, produção de alimentos e desenvolvimento econômico. Essa foi uma das conclusões do debate “O Brasil que vem: expectativas para a agenda agroambiental a partir de 2023”, que aconteceu durante a 2ª Plenária de 2022 da Coalizão Brasil.
“Por mais que eu ame a pauta ambiental, acredito que não adianta haver um comportamento radical para proteção ao meio ambiente que não dialogue com a produção de alimentos”, disse o senador Fabiano Contarato, um dos participantes. “Meio ambiente e produção de alimentos podem caminhar de mãos dadas”, reforçou, destacando que, para isso, crimes como desmatamento e grilagem devem ser punidos e evitados por meio de uma legislação rigorosa, da intensificação de fiscalização e da educação ambiental.
Além do senador, o debate contou com as presenças da ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira; do presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar; e da gerente de ESG da Mondelez, Mariane Crespolini. A moderação foi de Rachel Biderman, vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional (CI).
Em sua fala, a ex-ministra Izabella Teixeira lembrou que o Código Florestal foi, em 2012, fruto de uma grande negociação política entre o setor ambiental e o produtivo e que o atraso em sua implementação se deve a extremistas de ambos os lados. “Acredito que muita gente no país tenha uma visão equivocada, já vencida, sobre governança climática e agenda de clima. Agenda de clima é agenda de desenvolvimento, e deve, cada vez mais, pautar a economia.” Disse, ainda, que é preciso um novo pacto político nesse sentido, aos moldes do Código, mas que é necessário, para isso, que haja uma visão de futuro para a agricultura brasileira. “Isso não existe, não está registrado em lugar nenhum e é essencial para nortear todo o planejamento daqui para frente no setor agropecuário.”.
Nassar, por sua vez, comentou a recente decisão do Parlamento Europeu de proibir a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas. “Há muita coisa boa acontecendo no agro e não há reconhecimento no exterior. Essa decisão europeia mostra que aquele continente não enxerga nosso lado sustentável”, afirmou.
O presidente-executivo da Abiove espera que o governo recém-empossado possa contribuir para tirar do produtor o peso e o custo de exigências dos mercados internacionais e dos agentes financeiros, como o de inventariar e compensar emissões de gases de efeito estufa também da cadeia de suprimentos, o chamado escopo 3 do GHG Protocol, importante para o cumprimento das metas net zero.
“As grandes companhias acabam pagando alto por isso, por terem de assumir a responsabilidade pelo produtor, que é seu fornecedor na ponta. Então, para além do Executivo, é preciso fomentar essas discussões no Poder Legislativo, formado por uma maioria que não conhece essas questões a fundo e nem as exigências enfrentadas pelo setor privado brasileiro junto aos mercados internacionais”, assinalou Nassar.
O papel das empresas para a promoção do desenvolvimento sustentável também foi lembrado por Mariane Crespolini, da Mondelez. Segundo ela, cabe ao setor privado acelerar a agenda de desenvolvimento junto aos produtores rurais, o que pode ser feito por mecanismos como prestação de assistência técnica e articulação com o poder público para o fortalecimento de seguro e crédito rural. “Eu sou muito otimista sobre o que as empresas podem fazer, porque é um privilégio estar em um país como o nosso, com energia de diversas fontes renováveis, o que nos coloca em posição muito privilegiada em relação a outros países”, defendeu.
Ainda que haja divergência na forma como os diferentes atores da pauta agroambiental enxergam o binômio produção e conservação, evidenciada em algumas colocações de Izabella Teixeira e André Nassar, Rachel Biderman lembrou que é possível encontrar um caminho para que as pautas sejam levadas adiante, impulsionando o país em direção a uma economia de baixo carbono e com maior inclusão social:
“O Brasil não pode ficar mais na gangorra ‘agro e meio ambiente’. A Coalizão surgiu para isso, para que os dois caminhem juntos. Temos que fechar a equação e ceder de um lado e de outro”, finalizou Biderman.
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