Em plenária, líderes abordam como aproximar Coalizão de novos interlocutores da sociedade civil e do agronegócio; Renata Piazzon assum cofacilitação do movimento
Mariana Pereira, Renata Nogueira, Miguel Calmon, Laura Antoniazzi, Ana Tulia de Macedo e Renata Piazzon na 2ª Plenária de 2022 da Coalizão. Foto: Fábio Vieira
O avanço das diferentes frentes de trabalho da Coalizão Brasil deve ser consolidado a partir do aumento do diálogo com o poder público, avaliam líderes do movimento. Representantes do setor privado e da sociedade civil acreditam que o ano de 2023 será marcado por uma maior articulação com os governos federal e estaduais empossados em janeiro.
Trata-se, também, de um momento oportuno para a expansão da rede da Coalizão, a fim de obter ainda mais legitimidade para a abordagem de certos temas, como segurança alimentar, debate que pode atrair cooperativas, e a implementação do Código Florestal, agenda atrativa ao agronegócio.
Durante a 2ª Plenária de 2022, realizada em dezembro, os cofacilitadores do movimento destacaram que as propostas da Coalizão para uma agenda agroambiental sustentável, reunidas no documento “O Brasil que vem”, foram analisadas pelas equipes de transição do governo federal eleito.
“Estamos virando um ciclo no Brasil que foi especialmente desafiador. Tudo indica que estamos em outro momento e que portas e ouvidos estão abertos. Nossas contribuições foram levadas e resta saber o resultado desse exercício de escuta ampla”, afirmou José Carlos da Fonseca, cofacilitador da Coalizão e diretor-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
A Plenária contou também com a transição da cofacilitação do movimento – Rachel Biderman, vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional, passou o cargo para Renata Piazzon, diretora executiva do Instituto Arapyaú. Piazzon projeta que a Coalizão deverá ser bastante ativa na incidência junto a tomadores de decisão em 2023: “Seguramos retrocessos e agora podemos ter uma postura cada vez mais proativa em advocacy”, revelou.
Biderman, que, após ocupar por dois anos a cofacilitação, segue como membro do Grupo Estratégico, destacou que o cumprimento do Código Florestal continuará a ser o pilar orientador dos trabalhos. “Não abrimos mão dessa visão trazida pelo Código, e o Brasil precisa implementar suas diretrizes e normas”, afirmou ela, que também é vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional.
A atuação da Coalizão em 2023 deverá ser norteada pelas propostas apresentadas no documento “O Brasil que vem”, que tem como pilares o combate à fome e promoção da segurança alimentar, o combate ao desmatamento e a geração de emprego e renda. Neste contexto, os líderes das forças-tarefa (FTs) explicaram o que esperam ver avançar em 2023 nas agendas de seus temas de atuação.
Laura Antoniazzi, sócia da Agroícone e colíder da FT Restauração, informou que o grupo focará esforços na articulação do Observatório da Restauração e Reflorestamento com outras plataformas, como a Aliança pela Restauração na Amazônia e a Rede Araticum, e na melhora do recebimento de dados. “Queremos promover essa integração para facilitar o acesso de quem quer participar da plataforma e dar destaque a eles”, antecipou.
Além da questão ambiental, a restauração também é uma agenda social e econômica. Segundo pesquisa divulgada em 2022, feita pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança Pela Restauração na Amazônia e Coalizão, com o apoio da The Nature Conservancy (TNC) e do WRI, cada 100 hectares restaurados no Brasil tem potencial de gerar 42 empregos.
O setor de silvicultura de espécies nativas também deve ser olhado como uma grande oportunidade econômica para o país, destacou Miguel Calmon, colíder da FT dedicada a esse tema e líder de financiamento de carbono da Conservação Internacional (CI).
Para Calmon, o polo de silvicultura implementado no Espírito Santo é um modelo de desenvolvimento que deve ser levado a outras regiões.
“Estamos confiantes que essa atividade finalmente vai deslanchar e será uma contribuição não só para o próprio país como para a demanda global. E a Coalizão consegue conectar academia, sociedade civil e governo em torno dessa agenda”, afirmou.
Ana Tulia de Macedo, coordenadora de Relações Governamentais da Natura &Co e colíder da FT PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), revelou que o grupo pretende organizar, neste ano, um seminário sobre o tema envolvendo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A FT também espera ter sinalizações positivas relacionadas à regulamentação da Lei de PSA, para a qual o grupo contribuiu com uma nota técnica. “Há uma proposta ligada a esse tema feita pela Coalizão para os primeiros 100 dias do novo governo. Enxergamos isso como oportunidade de geração de renda, especialmente para pequenos agricultores e comunidades tradicionais.”
Já o debate sobre segurança alimentar, outra frente amplamente abordada pela Coalizão em seu novo documento, pode exigir mudanças estruturais na rede. Mariana Pereira, coordenadora de Projetos da Fundação Solidaridad, defendeu uma mudança no escopo da FT ATER, atualmente dedicada à assistência técnica e extensão rural, ampliando seu enfoque para todo o sistema de agricultura familiar. Esta reforma implicaria, também, na convocação de novos interlocutores na sociedade civil.
“Em muitos momentos, durante a construção do documento de propostas da Coalizão, percebemos como carecemos de mais representantes vinculados à agricultura familiar e à segurança alimentar. Então, queremos chamar outras representações, como cooperativas e organizações ligadas à agroecologia. Temos uma oportunidade de contribuir mais e amplificar essas vozes, que geralmente são poucas e as últimas a serem ouvidas em nosso setor”, defendeu.
Para que todos esses esforços surtam efeito, é preciso enfrentar o desmatamento, lembrou Renata Nogueira, líder de Sustentabilidade das Cadeias de Suprimentos Agrícolas da Cargill na América do Sul e membro do Grupo Executivo da Coalizão. Nogueira lamentou a falta de avanços recentes na implementação do Código Florestal, uma agenda que conta com amplo apoio do setor privado. Trata-se, portanto, de um tema que pode atrair mais representantes de empresas para a rede da Coalizão.
“Temos que aproveitar esses temas, que já são consensos, para nos aproximarmos do agronegócio, e aproveitar o ambiente de diálogo com o governo para construir juntos. Como setor, temos expectativa de ver o Código Florestal sendo implementado e devemos acompanhar o papel que a Coalizão terá para garantir isso”, ressaltou.
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