Nº 84
12/2023

Tempo de leitura: 5 minutos

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Especialistas debatem papel da transição dos sistemas alimentares

Painel destacou a importância de destinar recursos e tecnologias à ponta da cadeia produtiva; agenda abriga temas que vão de resiliência climática à saúde pública e equidade social 

Luciana Nicola, Carina Vitral, Fernando Sampaio, Moisés Savian, Ricardo Abramovay e José Carlos da Fonseca participam de debate. Foto: Maressa Andrioli

Da resiliência climática à equidade social, passando pela saúde pública e a geração de emprego e renda. A transição dos sistemas alimentares tem provocado mobilização crescente em fóruns internacionais, inclusive a Conferência do Clima de Dubai (COP 28), e promete ser uma das pautas de destaque do G20 em 2024. 

O tema foi debatido por especialistas de diversos setores na 2ª Plenária da Coalizão de 2023 da Coalizão, moderado por José Carlos da Fonseca, em sua despedida da cofacilitação do movimento.

Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro, da USP, ressaltou que o atual debate sobre transição dos sistemas alimentares ignora que a alimentação contemporânea é feita, cada vez mais, de produtos ultraprocessados, responsáveis por prejuízos significativos à saúde das pessoas. “Precisamos ter uma abordagem holística sobre sistemas agroalimentares, mas os documentos não mencionam sequer o predomínio cada vez maior dos ultraprocessados”, alertou. 

De acordo com Abramovay, a produção agropecuária deve deixar sua ótica ainda baseada na Revolução Verde: “Na era do Antropoceno, precisamos romper com a monotonia da nossa alimentação”, ressaltou, acrescentando que a falta de diversificação torna a agricultura do país mais exposta aos impactos negativos de eventos climáticos extremos. 

Diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio reforçou que o país pode liderar a discussão de transição dos sistemas alimentares, um processo considerado relevante para as empresas:

“No setor privado, temos noção de que nosso futuro acesso a mercados depende de como lidarmos com a produção e a conservação. Precisamos definir o que é essa transição, os próximos passos e os recursos necessários para mostrar que sabemos fazer isso antes da COP 30, em Belém”, avaliou.

Sampaio, que assumiu a cofacilitação do movimento, destacou que produtores rurais de algumas regiões do país têm a percepção de que a transição dos sistemas alimentares seria danosa ao seu modelo de negócio. A Coalizão, avaliou, teria como desafio mudar esta percepção.

Na COP 28, 158 países endossaram a Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática. O documento foi o primeiro do tipo a colocar os sistemas alimentares no centro do debate do clima. 

O secretário de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Moisés Savian, ressaltou que a Conferência do Clima deixou uma série de compromissos e tarefas para o país. Segundo ele, as soluções duradouras para o cumprimento do Acordo de Paris passam pela discussão de agricultura.

“Estamos em processo intenso de desenvolvimento de um programa para a agricultura familiar. E a Coalizão é espaço privilegiado para essa discussão”, ressaltou. 

Já Carina Vitral, assessora da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda, afirmou que o Brasil mostrou, na COP 28, que tem uma estratégia para seu desenvolvimento econômico sustentável, destacando o Plano de Transformação Ecológica. “O Brasil pode dar grandes contribuições para o mundo se promover a descarbonização, ao mesmo tempo que defende seus interesses econômicos”, defendeu. 

Vitral lembrou que o Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo, mas a transformação dos sistemas alimentares se tornou uma emergência diante das novas condições climáticas e da necessidade de promover a resiliência das cadeias produtivas. 

Outro tema relevante na COP 28 foi a adaptação, uma atividade que demanda investimento e assistência técnica, sublinhou Luciana Nicola, diretora de Sustentabilidade do Itaú Unibanco. Segundo ela, o setor financeiro tem olhado não apenas para crédito, mas também para o sistema de blended finance e o investimento social privado como parte das alternativas para levar recursos ao campo, incluindo os pequenos produtores. Outro ponto de atenção é a promoção de incentivos para a adoção de boas práticas. 

“O espectro é amplo e a COP 28 trouxe discussões nesse sentido. O G20 deve intensificar esse debate. O que mais escutamos é que há uma necessidade de trilhões em recursos, mas um ponto de preocupação é como esse investimento será feito e de que forma chegará a quem precisa”.  

Ao longo do debate, os painelistas levantaram a importância de melhorar a eficiência na produção e o acesso, por meio de recursos e de assistência técnica, a tecnologias já existentes. Abordaram ainda a necessidade do ordenamento territorial e como o enfrentamento das mudanças climáticas pode ser transformado em oportunidades de desenvolvimento econômico e sustentável para o país. 

Assista ao painel no YouTube da Coalizão, a partir de 1h33.

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