Nº 85
01/2024

Tempo de leitura: 6 minutos

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‘Trabalho coletivo e espírito público tornam Coalizão relevante’, diz ex-cofacilitador

Em entrevista após cumprir mandato de dois anos à frente da rede, José Carlos da Fonseca destaca alta capacitação das lideranças do movimento

José Carlos da Fonseca entre Fernando Sampaio, seu sucessor na facilitação do movimento, e Rachel Biderman, membro do GE. Foto: Maressa Andrioli/Ateliê Selva

Entre dezembro de 2021 e dezembro de 2023, período em que esteve à frente da cofacilitação da Coalizão Brasil, o diplomata José Carlos da Fonseca, presidente executivo da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), conduziu o movimento na defesa pela democracia e contribuiu na elaboração de propostas, com vistas a um Brasil mais justo e sustentável, que foram entregues a governos e parlamentares eleitos em 2022.

O mandato de Fonseca à frente da cofacilitação foi encerrado na 2ª Plenária da Coalizão de 2023, em dezembro passado. No evento, foi anunciado que seu sucessor no posto seria Fernando Sampaio, diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Sampaio dividirá a liderança da rede com Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú.

Em entrevista para este boletim, Fonseca, que também é relações internacionais da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), destaca a alta capacitação das lideranças do movimento. “Esse padrão de excelência traz muito orgulho a todos que participamos da Coalizão”, disse. E complementa: “O que alcançamos é fruto de trabalho coletivo, de muito engajamento e espírito público de todos que, voluntariamente, tornam a Coalizão um movimento respeitado e relevante, no Brasil e no exterior”. 

Você esteve à frente da Coalizão em um ano eleitoral, dedicado à construção de propostas, e no seguinte, que marcou o início de novos governos e quando se falou muito sobre a implementação das medidas idealizadas pelo movimento. Como a rede adaptou sua atuação a cada momento?

De fato, atravessamos um período cheio de desafios e oportunidades. No primeiro ano, com foco nos valores da democracia e pluralidade que caracterizam a Coalizão e explicam sua relevância, demos atenção à nossa responsabilidade em manter uma interlocução internacional construtiva, que preservasse a relevância do Brasil como protagonista na agenda global da sustentabilidade.

Ao mesmo tempo, o movimento se engajou em definir prioridades e propostas para o Brasil que viria a nascer do processo eleitoral. Já no ano passado, em 2023, a natureza de nossa atuação precisou se desdobrar, com base no valioso e insubstituível trabalho de nossos membros e das Forças-Tarefa, na ampliação de nossa capacidade de exercer influência. Falo de fazer advocacy maduro, de partilhar a massa crítica de conhecimentos e experiências que são a resultante da articulação dos mais de 350 membros da Coalizão, numa representatividade de amplitude única. 

Qual balanço você faz de sua atuação na Coalizão?

É muito difícil e até arriscado fazer uma autoavaliação. Foi uma honra e um prazer coliderar esta rede ao lado de duas grandes profissionais como Rachel Biderman (vice-presidente da Conservação Internacional para as Américas), em 2022, e Renata Piazzon, em 2023. Sou muito grato a ambas, assim como à excelente Coordenação Executiva, altamente competente e dedicada, liderada pela Laura Lamonica. O que alcançamos é fruto de trabalho coletivo, de muito engajamento e espírito público, de todos que, voluntariamente, tornam a Coalizão um movimento respeitado e relevante, no Brasil e no exterior. 

Por falar em trabalho coletivo, como enxerga hoje a atuação do setor privado na Coalizão e qual sua avaliação sobre a articulação entre setor privado e sociedade civil no movimento?

O setor privado tem uma representação de muito peso na Coalizão, refletindo uma inclinação que vem desde a criação do movimento. Lá atrás, antes mesmo de a Coalizão existir, quando se deram as negociações que levaram à aprovação do Código Florestal pelo Congresso Nacional, ficou claro que a heterogeneidade de interesses – que, em alguns momentos, pareciam antagônicos –  poderia, se administrada com maturidade, respeito e tolerância, servir de base para a construção de convergências absolutamente estratégicas para o desenvolvimento brasileiro.

Setor privado, organizações da sociedade civil e comunidade acadêmica aprenderam que o desafio de ter em torno de uma mesma mesa não quem pensa igual, mas quem vem de perspectivas e caminhos diversos, oferece poderosa plataforma para mudar a realidade e fazer o Brasil avançar. Nos últimos anos, a Coalizão ganhou o ingresso, por exemplo, de alguns dos maiores bancos brasileiros, além de outras grandes empresas, dos mais variados setores da economia. E segue priorizando a atração de outros agentes econômicos relevantes, com especial foco no agro, este setor tão dinâmico que faz a diferença no Brasil e no mundo. 

Como você vê a Coalizão em um horizonte de médio prazo?

A Coalizão nos assegura a oportunidade de conviver com alguns dos grandes quadros e líderes do Brasil, em suas respectivas áreas de atuação. Em nossas estruturas de governança encontram-se algumas das maiores referências na agenda agroambiental. Diante das preocupantes perspectivas das mudanças climáticas e dos riscos à biodiversidade, dos desafios relacionados à produção de alimentos e ao combate à pobreza, um movimento amplo e plural como a Coalizão é um farol a iluminar o futuro que precisamos deixar para as próximas gerações. Devemos isso a elas. Para tanto, o exercício de paciência e de construção de convergências, que pressupõe a aceitação das diferenças, será ferramenta fundamental. Vejo no futuro da Coalizão um papel crescente de relevância e de liderança pelo exemplo.

O que você destacaria como aprendizados pessoais e profissionais com a cofacilitação da Coalizão?

Participar da Coalizão nos ensina a respeitar diferenças, valorizar a diversidade, ampliar a inclusão, promover a tolerância e ter a humildade de querer aprender com o outro. Esse aprendizado é lição para a vida toda, no plano pessoal e no profissional.

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